Sobre o que não sei
Quando Deus criou todas as coisas e presenteou a humanidade
com o intelecto, professou sua grande piada cósmica. Alguns não entenderam. Outros
fingem não entender. Há também aqueles que apelam para um nível de
racionalidade coisificada, intransitiva. Mas quando aqueles que acreditam no
materialismo racional vêm-se diante do abismo que separa o Amor da Razão. O assunto
nos tornou escravos do universo. Converso comigo mesmo. As letras que escrevo
parecem querer sair um passo à frente. O amor é um deletério que destrói nossas
mais íntimas convicções. É um peso sem alça. Ele tem razões que a razão desconhece,
mas nós, homens e mulheres, nos identificamos através dele. Sob a imagem da incerteza
à beira de um penhasco ilusório. Somos cegos. Por isso corremos o risco de
estar um passo à frente desse abismo. Ainda cegos encaramos o abismo, nessa
faculdade incoercível de sonhar. Construindo pontes imaginárias. Delineando horizontes.
Cruzando desertos afetivos. Como um retrato no sonho. Sem presciência, sem breviário,
sem hora. Amor é acordar diante do cenário. Extraindo verbos, conduzindo devaneios,
doente das aparências. Removendo sentimentos. A cólera de Hegel não basta
contra Jaspers, Husserl, Santo Agostinho ou São Thomas de Aquino. Sonho menino.
Água mais rápida que flui na fonte do rio. É estranho que tudo seja assim, incompreensível.
Um lugar vazio na prateleira dos momentos idos. Perdoa-me, nessa atmosfera
lenta da intimidade além do toque.
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