Sudário



Você quer tirar todas as minhas feridas, minhas marcas? Mas já me acostumei tanto com elas, mas você fica tão bem com elas, marrom, sépia, sanguínea, meu corpo todo manchado neste seu corpo todo branco... A secura da boca está cada vez mais intensa, estou com medo, será que vai dar certo, depois desta morte, a minha, você ficar marcado com minha imagem, sangue menstrual, sangue de dor, dilacerando você também, eu já estou acostumada... Menstrua corpo, vida de fêmea. Não deixe este sudário nos tirar o frescor, a doçura, o prazer. Sudário da puta que te pariu, sua de perto, não vê que ainda não chegou sua hora? Mas ao mesmo tempo te acho tão sedutor...


Ana Teresa Barboza



por Francisca Bello, ombudsman do Papagaio Mudo

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