Simplicidade


Reverso inevitável. Tentarei levar a vida como um monge tibetano, apesar da vida monástica, há a questão da nobre convivência com as pessoas. Eu e minha mãe vivemos em um monastério. Há um pequeno lago azul. Orquídeas lindas quando florescem. Há o “pai Joaquim". Há mulheres-lolitas-peixe de olhos verdes e lábios rosados, na parede mofada da aresta de um quarto. Há índios e guerreiros da floresta. Há gnomos em nosso jardim. Inclusive três babosas grandes em baixo do bico-de-papagaio. Há uma plantinha rasteira cobre a terra Há um “rastro” de hortelã que some e reaparece, morre e ressurge assim como nós mesmos. Nesse pequeno canteiro houve já também o rastro de tomadinho italiano, que sobreviveu alguns meses, como um rizoma, que comemos. Os beija-flores de todas as cores ainda flanam na fauna do micro ecossistema. Trepadeiras que sobem sobre olhos, que tornam-se dois quando se vê à distância. Mas nada mais funciona tão perfeitamente como antigamente. Não há seres humanos mais, essa está prestes a ruir. No portão do lado de fora da garagem vê-se um adesivo colado, VENDE-SE. Um monge deve pensar sobre cada uma de suas ações. E como um índigo hiperativo, tento. Hoje joguei Packman, ícone da minha geração, no Google, por quase três horas. Sou dois anos mais velho que esse jogo. O tempo “passou”. Afago minha barba velha. A sensação egoísta de que tudo está vazio. Transpor um rol de conflitos. Lutar contra ansiedade e aceitar as perdas como inevitáveis. Tudo é tão transitório que merece o meu registro mais banal. Como madre Tereza de Calcutá e Jean Genet, tentarei expurgar todo mal. Dominar meus próprios demônios e então o passado não mais viverá em mim.

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