A voz de Julinho Barroso - arte e atitude


Julinho Barroso é natural do Rio de Janeiro, não vive nas chamadas “comunidades de risco”, mas não se nega a contrapor os fatos que a sociedade vive cotidianamente. 
Falamos sobre alguns assuntos que a sociedade dissimuladamente tenta disfarçar e não fingir que não existem. 
Numa enquete que fiz no dia em que é celebrada A Consciência Negra, um dia de conscientização social que observa, nota, avisa, adverte, indica uma mudança urgente de comportamento, ele foi um dos respondeu mais depressa: “Diria sim. Abaixo o racismo Simples e direto.
Nessa nossa conversa discorremos (embora brevemente, através da internet) sobre assuntos comuns ao nosso dia-a-dia e em momento algum Julinho tergiversou como usualmente acontece. 
Violência policial, preconceito racial foram uns de nossos temas. 
Sobre a integração da arte na sociedade ele tem opiniões assertivas e visão clara de como artistas produtores culturais interagem. E como cidadão comum se beneficia com isso. 
Ele participou de uma das maiores conferências convocadas pelas Nações Unidas, A Rio+20 que integra plenamente a necessidade de promover prosperidade, bem-estar e proteção ao meio ambiente, na Cúpula dos Povos fazendo direção musical no evento.
A Conferência foi uma rara oportunidade para o mundo de concentrar-se em questões de sustentabilidade – uma maneira de examinar ideias e criar soluções.
Ele é parte integrante do grupo Reage, grupo que atua em negociações do governo com artistas e produtores musicais em beneficio da arte e dos artistas. È claro, quem ganha com isso somos todos. O cidadão comum engrandece a sua cultura. 
Embora não seja o porta-voz do grupo Reage, que é uma associação pública, amplamente democrática, falamos sobre alguns posicionamentos de como o Reage se referencia ao mundo.
Com vocês, a palavra de Julinho Barroso.



A arte e a atitude de um grupo aberto de artistas e produtores vem somando valores sociais.



Tony Alen, considerado um dos maiores bateristas do mundo, ao lado de Julinho Barroso


Gustavo Perez
O senhor é ativista de alguma causa?

Julinho Barroso
Faço parte do Reage Artista e membro do BlocAto que é o bloco do Nada Deve Parecer Impossível de Mudar


Circo Voador numa festa em homenagem ao Fela Kuti. foto: divulgação


Gustavo Perez
Ontem a polícia agiu com força excessiva e quebrou a perna de um sujeito que estava sendo levado preso.
A população local da comunidade do morro do Papagaio quase iniciou um enfrentamento. Isso, em plena luz do dia...
Queria ter compartilhado isso com você, e agora, mais que nunca, saber das suas opiniões.

Julinho Barroso
Opa, beleza?

G.P.
assustado com a falta de escrúpulo da PM mineira... mas sim, beleza...

J.B
.

O que tá rolando? Você é de BH?

G.P.
sim sou de Belo Horizonte. Moro próximo do aglomerado morro do Papagaio.
J.B.
e o que rolou no Papagaio?

G.P.
a polícia usou violência excessiva e acabou quebrando a perda do sujeito que se recusava a entrar na viatura, demonstrando assim um claro abuso de poder. Estou pasmo.

J.B.
Aqui é a mesma coisa:


G.P.

No Rio a polícia pratica esse tipo de violência?

J.B.
Aqui agora com as UPPS os favelados vivem com medo. E o Amarildo na Rocinha. Isso acontece direto.
Cara, a PM sempre foi assim na história isso pra gente não é novidade. Graças a Deus nunca tive uma experiências dessa até porque não moro em favela. Mas é muita opressão.

G.P.

o senhor, digo, posso chamá-lo por você?

J.B.
Claro que pode.

G.P.
Obrigado. Você já presenciou alguma ação desse tipo?

J.B.
de alguém apanhar da PM de quebrar a perna. Sim, claro.

G.P.
o Reage tem uma sede física?

J.B.
Não. O Reage é um grupo de produtores e artistas que se reuniram para discutir com o estado uma forma melhor de financiamento e fomento as artes e cultura.

G.P.
Essa vulnerabilidade com que o cidadão se encontra é uma preocupação dos artistas e produtores?

J.B
.
Sim. O Reage Artista esteve presente em todas as manifestações desde junho.




 "Mas tenho que frisar que ser apartidário não é ser anti partidário"

"...domingo agora no Ocupa Lapa. Eu conduzindo um bloco de maracatu"



G.P.
o Reage é uma associação, digo, com estatuto, presidente, etc.?

J.B.

Não é totalmente informa. E horizontal também, não tem dirigentes.

G.P
.

um modelo democrático?

J.B.

total


G.P.
Eu, mesmo estando em Belo Horizonte, posso me afiliar ao Reage?

J.B.

Acabei de te adicionar ao grupo.

G.P.
Oi! Muito obrigado. Deixar registrado que acabo de ser adicionado ao grupo Reage.
Julinho, os jornalistas trabalham na rádio-escuta para ter acesso aos movimentos da polícia e corpo de bombeiros.
Mas temos que ter consciência crítica ao receber a informação, pelo fato de poder e ter a obrigação de questionar a fonte.
No Rio, você entende que certos casos policiais também são retransmitidos de forma a deixar uma margem de dúvidas sobre os acontecimentos?

J.B.
Com certeza.  A mídia perdeu a vontade de questionar.

G.P.
perdeu seu caráter investigativo...

J. B.
Como produtor cultural fico pasmo como certos jornalistas da área cultural saquem tão pouco de cultura.
Às vezes a gente vê os caras escreverem cada merda que a verdade é que os jornalistas que cobrem política e página policial cometem os mesmos erros. essa que é a questão. publicam ou escrevem sem ter conhecimento da coisa, e as vezes blefam, outras chutam e outras acertam.
G.P.
Eu devo dizer que quando penso em jornalistas, me vem à cabeça urubus em volta da carniça,

J.B.
Nem todos. Tem gente séria. Poxa tenho amigos jornalistas. Que trabalham pra Globo e tudo que tentam ser éticos.
Mas a verdade é que informação virou uma guerra suja e ideológica.
Não tem mais meio termo..
Ou é PT ou Anti PT. Não sou nenhum dos dois.

G.P.

só para acrescentar: na França, todas as quartas-feiras sai a edição de um jornal inteiramente apartidário. Estamos longe de conseguir um tipo de publicação desse viés?
Qual a sua opinião sobre isso?

J.B.
Acho muito importante isso. Mas tenho que frisar que ser apartidário não é ser anti partidário.

G.P.
Obrigado pelas declarações, Julinho. Muito agradecido.

J.B.
De nada amigão.


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