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Terceiro Ciclo
Quão?
“onde o fim acaba pelo início”
“onde o fim acaba pelo início”
Prosa e Poesia
Que saudade
repleta de sentido. Criando atividades para reduzir a lista de saudades. A
janela que emoldura a paisagem. Ladrão de entardeceres, os tons bucólicos
sempre emprestam cor à tristeza. E a noite revela seus segredos. Escrevo apenas
aquilo me apetece. Que nunca pede licença pra ir embora. Ainda sem saber, eu
inventei você.
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Feliz Alento
Como vai, meu amor?
não sei, podes tu?
mudar à vontade
a convicção
Alheio aos porres de
bigorna
Assim se formam as
formas vivas
em que a matéria cobrou
em demasia
um pouco do meu estado
poético
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Mas pelo
fato de a poesia, em comparação com o pensamento, estar de modo bem diverso e
privilegiado a serviço da linguagem, nosso encontro que medita sobre a
filosofia é necessariamente levado a discutir a relação entre pensar e poetar.
Entre ambos, pensar e poetar impera um oculto parentesco porque ambos, a
serviço da linguagem, intervêm por ela e por ela se sacrificam. Entre ambos,
entretanto, se abre ao mesmo tempo um abismo, pois “moram nas montanhas mais separadas”.
Agora, porém, haveria boas razões para exigir que nosso encontro se limitasse à
questão que trata da filosofia. Esta restrição seria só então possível e até
necessária, se do diálogo resultasse que a filosofia não é aquilo que aqui lhe
atribuímos: uma correspondência, que manifesta na linguagem o apelo do ser do
ente.
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Vejo que
todo mundo tem um dilema. A minha pena incansável pena. Escrevo carta pra mim
mesmo. Escrever é tão difícil apunhalar o pensamento. Minha caligrafia agora
voa como flecha. Estou tão canibal que sempre que escrevo penso em comer
animalescamente, entende? Como disse um professor “o que não é predecessor é
sucessor...” E assim segue.
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Tô com uma
insônia de merda esses dias. Parece que as coisas não acontecem e de repente se
acontecem e tecem a longa rede da realidade que vai se alternando entre bons e
maus momentos. Vai-se acalmando como uma lenta, leve, suave melodia que dorme
ao meio dia, vai-se do aéreo da mais culminante nota no tom mais elevado do
jazz, da batera, do tumtum, papum, e acaba no piano ma no molto, alegro
ma no molto, presto ma no molto, adágio. Lembrei-me
da minha incansável stamina para certas coisas. Enquanto a fenda da vida não se
abre, tudo corre rápido, vai e acaba. A música e recomeça, e eu, meio tonto,
não ligo, relaxo. É assim. Não me leve a sério, permanece o mistério. Suave
aroma de cânfora, chocolate e vinho. Perfume françês e cafezinho pra depois.
Rememorando aromas.
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Como
acordar? Acordo pela manhã com dois sóis. Se eu pudesse ser apenas dois, mas
não consigo, não dá, não posso, e sigo assim sem poder-me desmultiplicar. A
Manú disse que me viu. A Simone sumiu. Mudou pra Brasília. Ah se eu soubesse a
cavidade triangular super swipple flex. Havia tantas horas sem sono, sem sonho,
sem drama, sem cama, sem ninguém pra pegar no joelho. Sabe, Manú mando um
beijo, mas esqueci de dizer.
__não fica
assim.
__mas você
sabe, aldeia é tudo.
__sim, eu
sei. – e saio descontente.
Mas de
repente vem uma sensação gostosa de plenitude, aconchego e orgasmo pleno.
Se torto, eu
sei. Escrevo aqui.
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Hoje costumo
dizer que muito é pouco é muito é talvez até muito pouco. Quantas vozes temos
nós? O sonho dourado do iluminismo não vingou. Hoje sei que a opinião é volátil
ou distorcida. Não sei se temos muita opção, não há para onde fugir. Devo
pastar devo postar devo. Não sei se quero estar em cima ou em baixo. Não sei
quantas vezes a dor foi mais sutil que as palavras. Nem sei como referir-me a
elas, ou eles, não há gênero. Sentimentos... Como saber? Como dizer como são?
Já não sei, já não sei. Como transformar a passagem das horas em momentos bons?
Deve ser assim... quem souber me telefona.
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Escusa me
Eu por mim mesmo
Na pele de outro alguém
Vivo sonhando,
mas você não vem, não vem.
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Desejos de ser
distinto
adj.
1. Que não se pode confundir com outro.
2. Que não faz parte de outro.
3. Que forma corpo à parte.
4. Claro, perceptível, inteligível.
5. Singular, notável, ilustre.
6. Gentil, elegante, primoroso.
7. Que revela fina educação.
8. Ficar distinto: receber distinção (em exames escolares).
Meu espírito de gato deseja ser todos esses adjetivos. O mesmo, através de tantos, através da caridade. Deseja ser gracioso, gentil, elegante, engraçado, pictórico, generoso, único, singular, original, nobre, elegante, aristocrático, unívoco, categórico, excepcional, incomum, extremo.
51
Como
tratar o indecifrável?
Eu nunca
estive preparado. Mesmo assim a vida segue seu rumo, fatalmente, ao mesmo tempo
em várias direções. Não importa que a vida seja mesmo essa aventura. O que
importa agora é sentir-me vivo. Estou preparado pra o que der e vier ao meu
encontro. Porque hoje amanha será passado.
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BEAT
PARALELOGRAMO. Andar pelas ruas, as mesmas ruas. Estar sozinho ou acompanhado,
viver uma realidade paralela. No meio das pessoas, pareço tão louco quanto devo
ser. Perto de mim, meus vários. O eu de pé, o eu de chapéu, o eu
sentado esperando os vários minutos calados passarem com imprecisão. Ando
durante o dia. O eu que vai pela noite durante a noite pela noite. Dia-a-dia,
espero-te à tardinha, quando nos encontraremos felizes a olhar o céu, que vai
nos encher os olhos de nuvens. As lágrimas escorrem da exultação mórbida de um
luto. Perdido no globo que eu não me encontro. Não peço informação, mas não faz
diferença. Estou inerte, indiferente a tudo isso. Vivendo como criatura da
noite. Observo os desejos de amor, os delírios de amor, amor contido no vazio
do ego que implora alguma existência. Histórias que trazem um personagem
oculto. Amores que fazem da vida o pior e o melhor da vida. Litígios da
aproximação.
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AINDA
DEGLUTINDO UM COMEÇO. Desaninhado, sentei bunda no quartinho onde me cabia
inspiração àquela hora. Tentar ficar mimetizado ao máximo. Escondido, confuso
como um ratinho. Calado, quietinho. Com medo de mim, medo de me incomodar.
Tentando ser contido com as lágrimas de nostalgia, pensando no que jamais
seria. Ausente aflito, compungido, atormentado, atribulado, descontrolado,
entristecido, desolado, consternado, puto.
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Confissões à Lua
meus dias de amanhã
feitos de vários ontens
concretização de coisas
cotidianas
e as horas vãs
preenchidas pelo medo
fazem a insanidade do tempo
me dissem coisas ao pé do ouvido
coisas que eu
não posso entender
um lamento
um blues dolorido
lembrar do passado
me deixou entediado
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Os pratos se
quebravam e não era um casamento grego. O Cigano esteve aqui em minha casa e eu
lhe presenteei com uma foto, uma revista, uma meia e uma cueca. Era noite de
esquecer-se de tudo. O começo da decomposição. Noite de esquecer você e
extirpar com a navalha alguns miomas intelectuais.
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Che
arrivare
Volto às
coisas do cotidiano, inclusive às fúteis. Absolutamente neutro aos seus
relatos, enfim. Perco-me nas palavras duplas, perco-me na sua artilharia. Não
sei me defender. Uma sorrateira pilha de nada, nada vai me atingir. A sua pura
nudez e nossa nudez a brincar sozinhos. Somos ilhas, em poucas troças e muitas
doses. Não desejo o golpe. Cuidado com a malandanza. Cuidado com as
noites que chegam de repente.
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Confissões
de um cunilíngue.
Então
conseguiu ficar e manter-se mimetizado. Cores com seus porres invejáveis,
sincero amigo, singelos em sua boemia. Andando pelas ruas, sem pressa, sem medo
do esquecimento. Sentindo os ares da Praça da Liberdade, suas árvores, seus
jardins, suas fontes. A distância afetiva é como ontem. No jazz, madrugadas
fria, distante, secreta, escondida, segura, anônima, sem fim, e o tempo ousa
não passar. O tempo afetivo insiste em continuar. Vomitei o passado e vi fugi
de ônibus. Casa casa não tem mais, depois de anos. Fui fraco, um
verbário. Calado, afônico, monossilábico.
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Pedaço de
mim que estava preso na garganta, saiu como fumaça de rancores, raiva, desejos
de vingança, alucinações. Vociferando ao léu, no púlpito das intrépidas
memórias, palavras ordinárias contra a dor. Saudades e ódio, para inutilmente
tentar fugir de um desmoronamento. Túneis e pontes, conexões entre o passado e
o presente na cachoeira de domínios. Quando os seus olhos de menina vulnerável
à sombra de um desdenhoso anjo libertário. Confiar em mim foi como mentir uma
traição cotidiana que nos acometeu durante algum tempo. Tempo demasiado denso
desde o princípio. Aurora após aurora, quando ainda nenhuma manhã sublinha essa
lembrança, evolve-me o olvido. Falta-me o seu ventre, suas coxas e as minhas
coxas, o seu misterioso riso de mulher. Falta-me a nossa cama para o meu longo
cansaço. Falta-me a sua vagina ensolarada para ancorar a minha vergonha de
ternura. Espera em sua casa, nessa espessa noite que atravessa.
59
Para Artaud
Tentando
organizar minha casa mental. De repente tudo fica confuso, como o meio de jogo
de uma partida de xadrez. Referindo-me, ferindo e sendo ferido de morte todos
quase todos os dias. Morrendo e acordando com medo ou pânico ou preguiça,
covardia, ineficiência, turbilhão mental, falta de trabalho, falta de
iniciativa, falta de criatividade para iniciar algo que vacila entre o
sacrifício e a felicidade. Gerundiando... Dificuldade em ser feliz, dificuldade
em fazer feliz.
Deus me
ajude.
60
Para
entender as mulheres é preciso entender de cores, é preciso entender as fases
da lua, é preciso entender. É preciso ter um olhar holístico sobre todas as
coisas, sem coisificar os seres vivos e tampouco dar vida aos inanimados, mas
sabendo que, mesmo estáticos, todos participam do movimento. Não circular nos
altos e baixos da régua da história. Personagens vivificam a cena do príncipe e
a princesa espera a lua, cheia de melindres. Para entender as mulheres é
preciso informar-se de nuances, de matizes de cores, da mudança de luzes.
Qualquer logaritmo concebido para conceber. É preciso saber a resposta da
pergunta, ainda que essa seja icognicível. Colagem de pedaços isolados,
rasgados, mas que juntos estão em harmonia. Um olho daqui e o nariz na linha do
horizonte, sempre a sorrir e a piscar ao mesmo tempo. Junta os retalhos e
recomeça a costurar. Começa a cerzir metáfora com possibilidades.
61
Pequenas
paisagens guardadas nas gavetas da memória, fazendo alusão ao título das noites
passadas. Pequena menina azul, você agora descansa em outros braços. Agora a
noite dança em seu compasso. Melodia previsível sem palavras. Digo-te em
segredo que há um altar quando acordo, durante do sono cortado por uma poesia
subconsciente. A situação de vulnerabilidade física talvez não seja consciência
de todos nós. Duas estrofes, de três versos e se perdeu e em alguma gaveta.
Nada desabona as palavras. A mesma paisagem de prédios e janelas, luzes
acesas, lua minguante. Zomba de mim com seu sorriso amarelo. Você liga pra me
procurar onda anda minha vida? Quem é essa galera? Você se esconde. A quem
mostraria sua realidade? Como tentar esquecer uma sina, um acidente climático.
Feito tentar esquecer a realidade, feito rasgar uma carta antiga, um recado que
não significa mais nada. Os sinos tocam à mesma hora, um dia mais.
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O mistério
que envolve esse teorema envolve esse enigma e sempre se repete à mesma volta.
Você bebe a água e eu te bebo. Fico ébrio. Você coloca suas pernas sobre as
minhas coxas e eu sinto o seu sexo. Quero engolir sua boca, mas você me beija
mais do que eu te beijo e eu adoro. Sinto teu seio pequenino de ninfeta,
arrepiado e duro no escuro. Você embriaga-me como quem nada quer e bebe pra
matar minha sede. Parecem intermináveis as horas feito minutos. De tudo
esqueço. O trabalho inexistente esquece-me de hoje de ontem de antes de ontem.
Esqueço que me maldiçoou com sua soberba, sua irracionalidade, com seu
atavismo. A vida importa. A vida importa porque suas maluquices de ninfeta
fazem-me ter mais responsabilidade. Adoro seu cabelo todo lindamente atrapalhado
sobre seus olhos sobre o meu rosto. Seu beijo é o gostoso no caminho percorrido
ao instante eterno, efêmero e derradeiro em que te quero. A paisagem, essa
fogueira elétrica ao lado da cama e você. A Lua lá fora espreitando nosso
desejo com sorriso de Gato. Nesse momento quero esquecer meu passado. Quero
esquecer outras luas, outras primaveras, outras trepadas, outros beijos. Nessa
hora você se entrega e sobe sóbria sobre mim. Eu, bêbado de ti. A palavra, nada
diz. Não importa que devore minha alma.
63
Gats vida mut
O dia foi calmo e silencioso.
Nada de palavras, vazio de tempo, reflexões em off
Dia de restabelecimento, dia da santa
e a tarde passa como um vento
shhhhhhhh...
A cama parece meu último refúgio
mas eu não conheço nenhum Jesus da Silva
e não sou capitão de nada
Abespinhado apenas,
enquanto Açucena caminha sobre o abismo.
Lualuminosa
Nervos na mão
escolho a informação
vou sair daqui
não aguento mais essa
rodadesencontradadesons
rodadesonsdesencontrados
cacos sobrepostos de palavras
paravólas ânvulas de vávulas
pululam trêmulas valvuladas
vai-se
alçar voo
o doce trombone
já vai se acalmando
na noite da Paleontolinésia
reinventando - postagem mil 666
Que saudade repleta
de sentido. Criando atividades para reduzir a lista de saudades. A janela que
emoldura a paisagem. Ladrão de entardeceres, os tons bucólicos sempre emprestam
cor à tristeza. E a noite revela seus segredos. Escrevo apenas aquilo me
apetece. Que nunca pede licença pra ir embora. Ainda sem saber, eu inventei
você.
próprios e peremptórios
Eu quase
eu
A vida é assim essa confusão de vírgulas sem fim, de perdidas ilusões. Eu quase eu. Sem fôlego, sem voz. Quem não a segue se assusta. E quando ela volta, feito mulheres titubeantes, perplexa, mas decidida, perde-se em sua frágil floresta de vidro. Eco sou eu, o som de mim que não é mais, é outro eu que dizeu.
O som emanado...
nenhum
A hora do silêncio. No seu caderninho esquecido. Lembranças jogadas
fora. Tidas que arrancar, quando obtidas. Tidas que sonhar quando obtidos novos
confrontos, novas partidas. Quando se sabe que ficou pra trás a pele velha?
Faz tempo...
Ontem o que foi que aconteceu?
Ontem foi um encontro ao acaso? Proibido beijar na boca. Vencer as tentações
rasteiras. O dia seguinte. Curando ressaca. Ou curando a alma ao som de Elomar?
Atenho-me a não mais fazer comentários sobre os olhares de peixe-morto.
Falar sem dizer
·
Não concebo mais racionalmente, não sei mais o
porquê de eu ser um risco a mim mesmo.
·
O animal não tem propósitos, mas próprios.
·
O animal nunca causa danos a si mesmo.
·
Emoção, ela flutua entre consciência e
sentimento físico.
·
Não conheço ambição.
·
Não passo mais por eles que não quero que me
vejam. Protejo-me dos vivos e dos mortos.
·
A crueldade mora onde há um predador e uma
vítima.
·
Diminuto é o segundo que separa a lassidão do
golpe.
abaixo embaixo
Faz alguns anos eu não vejo o
mar, uma impressão única para nós que vivemos distante do litoral. Faz pouco
tempo, minha namorada foi de encontro ao mar. Aqui de longe, talvez
inconscientemente, nesses dias em que ela esteve fora, me pus a procurar a conchinha
mais bonita entre as que ficam guardadas em um vaso – lembrança do tempo em que
íamos quase todo ano pra praia, pai e mãe, irmãos, e catávamos conchinha. Somos
da geração anterior ao advento da sustentabilidade ambiental. Acho
que nem se encontra mais essas conchinhas, nas praias brasileiras, um tanto por
conta de gente como nós.
Eu pensava no mar. Chegava a
sentir. As ondas lambendo meus pés num vai e vem sem fim. Pensava na
linha do horizonte, na imensidão... Podia sentir meus olhos marejados de água
salgada. Sentia o ar mais denso, a respiração mais leve. Na água de
algum mar rememorado refletindo o brilho das estrelas, pensava. Sensação de
calma combinada à magnitude do vazio. Porem, não há maiores desertos em meu
caminho. Somente o vazio, imaculado, pronto para procriar.
Espaço onde nada ainda aconteceu,
o momento mudo, onde coisa nenhuma ainda foi criada, fabricada ou concebida. A
ação, nem mesmo a despeito de ainda estarmos sujeitos à fisicalidade dos
corpos, nem ela mesma tem nome ou pode-se nomear. Se dilatada ou retraída, qual
tanto se pode aferir significação? Antes do Nada era o Nada. Um Nada maior
ainda. Ou menor? Segundo a dialética vigente e mais conexa de que somos
resultado da grande viagem cósmica, a matéria reduzida ao tamanho da cabeça de
um alfinete e Bang! De repente tudo se apossou do Nada e o Todo se formou.
Todas as coisas.
Caso da indissolúvel associação
Nesse diálogo cotidiano consigo
mesmo, entre um pensamento e outro que vagam pelas horas, dei-me conta de que
somente há poucos dias vejo sob uma nova perspectiva um episódio que ocorreu.
O fato é que elogiei a caixa que
uma amiga arrumou pra colocar suas obras de arte, pensando que a caixa era a
própria obra de arte, a própria coisa em si. Não havia sequer esse
“faz parte” ou o maniqueísmo contém/está contido. “Legal aquela caixa que você
fez” eu lembro de ter dito. Foi suficiente pra ela esclarecer que a tal caixa
foi usada apenas para transportar as “verdadeiras obras de arte”, mas não para
me fazer desassociar visualmente os objetos.
A “caixa” que menciono era o que
parecia sido um dia uma grande gaveta de madeira. Sim, quando escrevo “caixa”
supõe-se “recipiente que serve para guardar ou transportar outras coisas
dentro”, mas na verdade aquela ainda parecia ser uma grande gaveta de madeira.
Por extensão, gavetas também são caixas corrediças que se embebem nos
móveis e servem para encerrar objetos.
Dentro da gaveta havia uma
divisória, que foi acolchoada com espuma pra amparar melhor cada objeto.
Apesar de ter tido acesso a todas
essas informações, visualmente falando, a única conexão que fiz da coisa
em si foi outra. Foi, pausa, da coisa como um todo. Não sei se foi por
distração, por desconhecimento, ou por desconstrução, transformei a coisa
em si em “uma coisa só”.
A desconstrução, em seu
metadiscurso, torna tudo homogêneo, tudo igual ou muito parecido. Utiliza-se de
um só objeto para representar todos os objetos: uma massa amorfa e unitária.
Transforma tudo em “uma coisa só”.
Uma pessoa não alfabetizada
enxerga signos linguísticos - palavras, frases, frases que formam textos –
apenas como um “borrão” sem significado. A ausência de sentido, nesse caso,
impossibilita que a palavra “diga” alguma coisa.
(Continua...)
desci da minha
Paixão
da minha existência
atribulada
...e a saga continua.
Que a vida é uma luta, não se discute. Não discutir é uma premissa
da filosofia. Cada um tem a sua. Mas, se estruturar o pensamento é uma labuta,
há de admitir quem me escute, que eu rezo a minha. Na minha procissão caminham
muitas velinhas. A caravana entoa um coro gemido, ode à dor do burrinho. Essas
velinhas iluminam as cores papel celofane e a imagem que é viável de se
carregar aonde vão passando. Velhos e crianças Tum Tum... espera-se que o
lamento em uníssono suba, mas qual. Abelhinha zelosa has no
time pra mesmice, sorrow, lamentação, sussurro! Usa aí omê
o coro da onça e a mulé o gongo da cabra! Quem mandó acreditá na
jararaca-verde? Ofídio da peste! Paixão, paixão. A paixão costuma ser tão
difícil. Haja visto a do Nazareno. Devo comprar seis maços de
cigarro Sun Marino (Sán Marino, pronuncia-se
assim. Faz sucesso por ser barato.) e uns pacotes de biscoito. Por quê?
Mandar pro A. que tá preso. Pagando umas férias. Por quê? “A vida é assim” e
não me custa. Já ensinou andar sem vacilar, já afastou invejoso da Vila do meu
cangote e economizou verbo dando conselho, e por ser ele mesmo. Já aconteceu
dele fazer no F. calhou deu tá sem folha sucedeu. Adveio a boa vontade, na
humildade. Sempre! Eu plantei o bem e vou colher o que mereço. O FBI deve ter
meu endereço. Falam de mim, sou assim me convém, mas sei a querela entre o bem
e o mal. O mal é o bom, e o bem vai mal, no momento presente.
Na terça tenho terapia, oito da mañana. Doctor Deco diz
coisas tão assertivas... Olha que me defeco pra psicolombardia. deco
dereco dereco deco. O que me faz acordar tão cedo foi empatia. Enfim,
existência apropriada significa. Pua não esbagoa fina flor.
Mas arreda esse riso do beco, que escada demanda certo fôlego. Não tenho quem tem de mim. Segunda tem que pegar trintão no Maletovisky, pagar o Patchele, dar fim nessa dívida que já virou novela. Na terça vou malhar, sim. Academia do Djalma. Acho que lá se ganha mais peso tutanóide, que no Liceu de Platão da Grécia antiga. Acho não, tenho certeza.
Mas arreda esse riso do beco, que escada demanda certo fôlego. Não tenho quem tem de mim. Segunda tem que pegar trintão no Maletovisky, pagar o Patchele, dar fim nessa dívida que já virou novela. Na terça vou malhar, sim. Academia do Djalma. Acho que lá se ganha mais peso tutanóide, que no Liceu de Platão da Grécia antiga. Acho não, tenho certeza.
E assim sigo se com sigo, mais um dia na cadenciosa cadência. Sem cair.
No fio da navalha.
Na paixão atribulada da minha existência. Sujo de todas as tintas que me cercam, de todas as cinzas que se altercam, de tudo e de Toda Yng-Yang fluência. Tudo é nada. Quando um cadinho do orbe faísca, esse crisol pronuncia tudo.
Na paixão atribulada da minha existência. Sujo de todas as tintas que me cercam, de todas as cinzas que se altercam, de tudo e de Toda Yng-Yang fluência. Tudo é nada. Quando um cadinho do orbe faísca, esse crisol pronuncia tudo.
Ca’fé.
Paixão da minha existência
atribulada
Sabe? Não? Então vai saber? Tendo
a que te comprometas com a leitura. Vou falar, melhor dizendo, escrever. Dentro
doseus olhos, (d)entro sua cabeça, gravado e pintado as paredes do crânio a
prece intratutanar. Desfaço de mim nanico ácido lático. Verbo-memória que fica
acumulado. Seja pelo esforço da física progressão diária, seja por tudo que
ficou gravado em minhas retinas sem que eu pudesse querer ou não querer. Lá
pros lados onde ando e busco e permaneço, donde do interpretante energético
muito se perde, mas o que ficou registrado fotograma, fenômeno acústico,
fragrância não se consegue esquecer. Não obstante a lenga-lenga consiga
aclarar, apenas esboçar composição leviana de signos.
Aprendo tempo verbal que
improvisa nenhuma acepção. Apreendo sim, e cometo vasto deslize. Minto? talvez,
mesmo que menos seja mais em notas rasgadas. Então entra, toma-te fôlego e
sopra fundo!
Pra que dizer o que me doe so
far? Primo, eu me divido por nós. Divido-me por mim mesmo. Pra que dizer
que no mundo há pessoas, há sim. Que saíram do inferno e continuaram
andarilhos. Que seguem como vulto a sombra da noite. Aqui, ali e sabe-se lá
onde.
Alma de estrela.
Alma de estrela.
Certa conta roubaram minha droga.
(Yes, I did do drugs). Umatal Isamara-da-vida
foi quem me roubou. (Exúmara). Foi mais ou menos assim. Tava meio estranho
atividade na quebrada, ninguém na Vila e nada na Brasília, na Antena só
problema, na H, só pro nariz. Acabei indo parar na Capelinha. Não que estivesse
lombrado, mas o movimento no beco acontecia no estilo correria. Por lá ganhei o
passo. Troquei ideia pouca com outro consumista, que deu parte do esquema. “Tá
constando?” perguntei, e ele “a mulher aí que tá fazendo o corre-corre”. Isa
Mara entrava e saía do barraco do jou-trafíca, e toda família vigiava a reja. A
“mãe” controlava o portão (suspeito eu q o resto da ‘família’ mimetizado na
cena, também velava a ação). Dei vinte paus então, pra Exalara fazer meu.
depois “um pequeno” eu daria, de comissão. A Urtiga-do-mar me volta, é foda, só
com dez contos de farelo, em mercadoria. Mixanga pouca é bobagem, só na
ladroagem. Foi tudo tão rápido que Tom, miguinho meu, jovem-velho-conhecido,
registrou o fato com olho de gato. “Conheço, é meu considerado” disse “mora
perdalí, quase aqui, tá sempre aí, sangue-bão, blá e bláblá”. Completa “O
mano saiu prejudicado, Zarama-pófazêissunão” disse num só fôlego de
supetão, à dona da portaria. Dalí a pouco ela volta, com a palavra do
mano-trafíca “foi ela que te roubou. Vai atrás e se retifica”.
Nesse mundim de pilantra, subi com Tom a pequena escadaria. Amigo meu na rua,
contou papo reto a quem devia “is a Mara” “cadê ela?” disseram “tá
alimbaxo”respondeu “Vamô atrás dela, boy?”(boy
costuma ser vulgo) “Demorô, osmino!” então éramos
cinco. O camisa-vermelha-de-time querendo horripilar. “Bora
então”.
Mano-leitor, agora vou contar.
Descemos a escadinha na base da fita loca pra cima Chora-vinagre. Lembaixo
Exumara sentada, pagando de doida, foi cercada. Foi quando a vi tomá na cara.
Eita cavaqueira certa “num pode roubar usufrutuário, macaca besta
cavala!”. No desespero levanta e leva uma pemba na mama. Senta anta e
conserva o acaso, confusa, quase leva outro na fuça. Eis q a voz de Isa Mara
balbucia de pronto soluço certo conceito “vou devolver”. Pego na
mão da vadia, tirou um caroço do peio, fração de segundo, inda assustada, mundo
onde o-mundo-vê-tudo. Cara, vi terror na cara Exumara que quase se afogou de
susto, numa maré de bordoada. Eu, macaco velho, cego saí subindo as escada,
ouço com o rabo daoreia “menino, pára de bater nos otro” “bati ninguém
não, vó” diz a voz amofinada. “Só pus norma no esquema”. Pensei,
na “ética da máfia”. Onde ladra de cabelo piaçava faz alegria da moçada... Is a
Mara is a Mara is a marinha.
A Rua da Capelinha é minha antiga conhecida, embora não haja igreja ou coisa parecida. Mas se tem, nunca atinei, nunca entendi. o morro é mesmo, cheio de enigmas. Sua constituição randômica é cheia de segredos que desafiam o próprio Tempo. Daqui ali chegasse num minuto entrecortando escadas e becos que ligam ruelas e ruas feito mágica. Dada sua composição orgânica acercar-se um barraco o outro. Há excelentes moradias ao ponto em que, de imaginação e de improviso são feitas, modo geral, a próprio punho. Creches, bares, bocas e botecos. Núcleos comunitários. Igrejinha protestante onde evangélicos se divertem à beça, comendo, jogando bola, bebendo Tang e louvando, quase sem pecado, hora após hora até altas horas, e quase não se cansam.
Há muita droga escondida. Nem tão
bem que não se possa comprar, mas o suficiente que não se possa “apreender”
pelas vias que a Lei condena. Apreender então se torna uma palavra múltipla, de
múltiplo significado. Entre as formas de se adquirir conhecimento, apreensão,
abdução e experimentação, todas circulam concomitantemente no pequeno espaço
fechado que afinal chamamos cérebro. Capaz de arquivar sem compreender. Abarcar
sem incluir, o espaço de modo acertado, pois o erro foi abolido e o certo
certamente assume vida própria. Veste oportunamente a camisa da situação. Os
fracos também amam, morrem, nascem de novo, engravidam, nascem e findam, in
memoriam. Sim que não, desse pretenso verbo vindo seja capaz alcançar
uma pulga de entendimento.
Foi na Rua da Capelinha que o
diabo disse meu nome. Como se o fosse velho conhecido, quando pensava ser
apenas mais um Sebastião ou Benedito. Não, apenas uma vez, olhos claros, lábios
no sorriso, pronunciou meu nome, le-tra-por-le-tra, inda me lembro. Como se
agora inda soasse e ressoasse pra em meus olhos, boca, pele, nariz e ouvidos.
“Amo. Choro tanta desilusão.
Choro o pranto sentido de um coração esquecido num lamento cansado de amor que
não foi amado, ah como é triste ver o fim. E quem amou sonhou e fez tudo pra
não ser assim. Ah como é triste ver o fim. E quem amou sonhou e fez tudo pra
não ser assim”.
Há uns dias atrás ouvi uma
narrativa pirada, que me pareceu um tanto real, todavia excêntrica. O início de
tudo, da pedra (quisera fosse filosofal) feita por índio, mestres do mistifório
de raízes e plantas e, no caso, a química alcaloide potencializada, observada
por um negro jamaicano, que a narrou. O dia já amanhecia e ventava enquanto
ouvia esmiuçada descrição.
O tal índio, carregava sabedoria única e paramentava um bambu com caldo borbulhante que jamais se havia visto igual. (Creio o fato ocorreu nos entremeios de cadeia. Posto que o jamaicano passou vinte e nove anos “em cana”, entre fugas e reentradas, saídas e voltas...) Segundo o que me foi dito, encheu o índio uma cuia integral desse tal bambu, de um líquido borbulhante e verde totalmente estranho ao ex-bandido que comigo dividia aquele amanhecer com tal história. Aquilo parecia um enigma misturado a uma atitude, um jeito de agir que, naquele momento e agora, sem que soubéssemos, mudaria o mundo.
O tal índio, carregava sabedoria única e paramentava um bambu com caldo borbulhante que jamais se havia visto igual. (Creio o fato ocorreu nos entremeios de cadeia. Posto que o jamaicano passou vinte e nove anos “em cana”, entre fugas e reentradas, saídas e voltas...) Segundo o que me foi dito, encheu o índio uma cuia integral desse tal bambu, de um líquido borbulhante e verde totalmente estranho ao ex-bandido que comigo dividia aquele amanhecer com tal história. Aquilo parecia um enigma misturado a uma atitude, um jeito de agir que, naquele momento e agora, sem que soubéssemos, mudaria o mundo.
Sim, o Jamaica perguntava e o
sábio índio cautelar não dizia nada. Nada revelava sobre a misteriosa
combinação a que tanto se dedicava. O que causava mais curiosidade no negro que
acompanhava a minúcia de cada fase do processo. Finda toda minudência originou
uma barra de massa desconhecida. Prendia-me àquela descrição, como
se eu próprio estivesse lá. Qual gabolice seria o resultado de alto
grau de magia? Haverá de ser uma bazófia indígena em toda sua jactância?
Agarrava-me à riqueza da narração como se fosse experimentar o exímio veneno. O
resultado de tal ganga alucinada não era pequeno. Eis então que o índio retira
um pedaço, uma lasca, um toco como quem saca o filete de um osso. Jamaica
pensava conhecer todo tipo de alucinógeno a que se tinha notícia quando Bum! J.
vulgo “Hare-hare” sentiu sua primeiríssima onda de “pedra” numa viagem que
delinear acidentes é desnecessário. Conforme me contava, soube que a força
daquele preparado foi sem igual ativo e eficaz. A pujança com que foi
arrebatado tinha força desconhecida. “Toma. Vende.” – disse o índio assaz
cabuloso ao lado de seu místico preparado. Em seguida J. dominava todas as
bocas da quebrada assim como recebia críticas invejosas de seus adversários que
até então não conheciam o modus operandi para tal
resultado. A base do cozimento, a mistura, ponto de saturação. Sei foi que
ficaram bem putos! disse J.
O vento sopra novamente na fria
manhã onde finda a história. Um grande combate a tudo que estava por vir,
desenhando um cenário, passados quase trinta anos. Famílias dilaceradas,
doenças mentais, violência, crianças mortas, almas perdidas, pranto, agonia,
solidão, clínicas de recuperação, suicídio, dopamina, depressão...
Primeiro groove que eu fiz na
rua. Eita som eita loucura e tudo mais beleza pura. Como pino, ninguém
previa, nadie supo que hiva un sonido. Lecuona baila comigo
um pa de deux fugaz em meus ouvidos. Bailo mais leve, pois
todo toque do que você faz e diz, só faz fazer de Nova York algo assim como
Paris. Foi triste, Errante, inaugural, foi nesse dia que tentei a morte, não
quero mais. Daí em diante, passado. Daí em diante dias e noites, passado o
domingo, “contados” por mim-encarcerado foram oito. Mas isso não conta broto porque
você se pôs no meu lugar e disse que sentiu que estava sendo positivo, quando
eu pedia pra estar morto, mesmo tendo sobrevivido, mesmo agradecendo por ter
sobrevivido, mesmo não estar agradecido por isso. Agora passo-a-passo, escolho
melhor o repertório verifico uma grande dor de amor, deixo o disco tocar,
verifico se há café na xícara antes de correr o risco de estrear sem querer
pros meus pais na cozinha uma pré-estreia que poderia destruir meus planos tão
oblíquos. Agora vou cobrar meu pagamento em lados B e libertação liberdade,
bonequinha. Faixas contínuas, duplos, equilíbrio, sobriedade ébria de miador.
Limpo aquilo que esteve escondido preso em mim, o suor de minha cola, aramado
em meu pulso. Em solitários erres analisados em flash, na sombra do
meu ator de escrever, carcará. Vá fazer sua caçada. É um tempo de guerra. Eu
trabalho é carregando peça importante que não pode estar em débito. Medusa não
precisa. Prolixo. O que preciso é de uma tomada a mais na rua. Se na rua de rua
há mais do que dentro aqui do meu quarto.
Ah caro. Mijei na rua verei catarro, mas voltei com meus dez. Lucro mínimo. Folha mínima a ser absorvida, no caso.
Volto são e salvo. Acrescido da pedra do meu fardo. Volto até com o cérebro mais musculoso, tendo trabalhado, girado, conversado, sido privilegiado, acatado, considerado pelos irmãos de peso, carregado peso, e desdenhado, gozado, curtido e desfrutado e padecido pela visão-sonoridadeaparelhada-presença mambembe que ofereço.
Ah caro. Mijei na rua verei catarro, mas voltei com meus dez. Lucro mínimo. Folha mínima a ser absorvida, no caso.
Volto são e salvo. Acrescido da pedra do meu fardo. Volto até com o cérebro mais musculoso, tendo trabalhado, girado, conversado, sido privilegiado, acatado, considerado pelos irmãos de peso, carregado peso, e desdenhado, gozado, curtido e desfrutado e padecido pela visão-sonoridadeaparelhada-presença mambembe que ofereço.
Volto pra casa e escrevo. Isso sim objeto é aquilo que um dia se tornará mais seu do que meu. Padeço de rima e plectro, não sofro mais. Trabalho (?). Trabalho é como colher uvas? Sinto-me satisfeito. Satisfeito de ter saído da concavidade quadrilateral a que tantas vezes estamos subjulgados. Não, certamente que não fui em busca ao só do dinheiro, mas sim de um agenciamento de “coisas”, fatos, “pessoas”, imagens, ações, diálogos, ambivalência, valor, estima, apego, que aconteceram a priori só na minha cabeça. Durante o sonho diurno no qual preparava as tintas musicais. E me deparo com acervo de infinitesimal de vogais, que consoantes transfalam o que quero. Apoucamente transferem, transcodificam dizendo(?) alguma noção de sensação de sentimento-acontecimento. Choro. Amo. Tanta desilusão. Choro o pranto sentido de um coração esquecido num lamento cansado de amor que não foi amado, ah como é tão somente. E quem se sobrecarrega desmantelados agenciamentos? Cobre sim sua cola, cola, rola, orla. Porque a vida é feita de “momentos”...
Preciso de rua, do povo, das
pessoas, da faculdade livre da vida para arrumar um lugar onde viver, senão a
própria indigesta rua. O solilóquio plurivalente no qual se encera mais ou
melhor m(eu) verbo a que em um quadrilátero. Estou atento. Estou centrado. A
quem dizer o que sinto? Melhor ornamentar meus escritos, com pétalas
arrancadas, (es)colhidas em algum lugar do tempo, e conchas-do-mar (fractais
singulares) e palavras manchadas em papel que nunca mais serão ditas. Que se
perderam, lacradas, e se objetificaram para, talvez, um fim qualquer, ou, uma
pessoal-subjetiva apreciação do belo. Escrevo alfa-beta-gama-ômega-mente, ainda
que advinda da escrita, a primeira tecnologia, a invenção do alfabeto grego, a
egrégia noção de sensação de percepção da palavra, de fato,em si, seja
sua. Não me convém inquiri-lo juízo de valor absoluto. Essa última palavra
contém morte. E nem a própria morte, morfológica, é o fim de tudo.
Quando? Como? Enfim. Se parte de tudo se ilumina, o Todo se ilumina em si.
Nasce uma criança latino-americana enquanto no Japão enterra-se mais um
defunto.
Ignora-se a gramática portanto...
Ignora-se a gramática portanto...
quero “ir pro mato”. Rever minhas
tocas, meu sol, meu céu, minhas estrelas, ver Deus, onde a multidimensional
crista dos olhos enxerga tudo e a humildade me dão salvo-conduto. Deus, mais um
azul de céu claro se ilumina nos olhos, e estou cercado de homens! Homens e sua
maquinária além do fogo! Quero as mãos sujas de carvão! Não quero as letras nem
a desilusão do povo. E não querer é também sim-querer e só o que desejo é a
terça parte desse dualismo escroto! Ou tens a mínima noção que seja tutelar o
verme até a igreja?
Alguma esperança de nascer de
novo?
22h22min
22h33min
Relato dos dias que passei na
quebrada e da pesquisa de opinião que faço com os usuários com os quem
compartilhei as horas e a droga.
“Morro”, nome afetuoso dado às
elevações que contrastam com chamado “asfalto”, também conhecido como favela,
antonomásia exclusiva do português brasileiro.
A ideia de gênese na estética de
Kant
Analítica do belo como dedução: meta-estética
material do belo na natureza do ponto de vista do espectador. Se o juízo de
gosto reclama por uma dedução particular, é porque ele se reporta pelo menos à
forma do objeto, de outro lado, ele tem, por sua vez, necessidade de um
princípio genético para o acordo das faculdades que ele exprime entendimento e
imaginação.
O Sublime nos dá um modelo genético, é preciso encontrar um equivalente dele para o belo, com outros meios. Procuramos uma regra sob a qual estamos no direito de supor a universalidade do prazer estético.
O Sublime nos dá um modelo genético, é preciso encontrar um equivalente dele para o belo, com outros meios. Procuramos uma regra sob a qual estamos no direito de supor a universalidade do prazer estético.
Enquanto nos contentamos em
invocar o acordo da imaginação e do entendimento como um acordo presumido, a
dedução permanece fácil. O difícil é fazer a gênese desse acordo a
priori.
Ora, precisamente porque a razão não intervém no juízo de gosto, ela pode nos dar um princípio a partir do qual é engendrado o acordo das faculdades nesse juízo. Existe um interesse racional ligado ao belo: esse interesse meta-estético incide sobre a aptidão da natureza em produzir belas coisas, sobre as matérias que ela emprega para tais “formações”.
Graças a esse interesse, que não é nem prático nem especulativo, a razão nasce para si mesma, alarga o entendimento, libera a imaginação. Ela assegura a gênese de um acordo livre indeterminado da imaginação e do entendimento. Reúnem-se os dois aspectos da dedução: referência objetiva a uma natureza capaz de produzir coisas belas, referência subjetiva a um princípio capaz de engendrar o acordo das faculdades.
Ora, precisamente porque a razão não intervém no juízo de gosto, ela pode nos dar um princípio a partir do qual é engendrado o acordo das faculdades nesse juízo. Existe um interesse racional ligado ao belo: esse interesse meta-estético incide sobre a aptidão da natureza em produzir belas coisas, sobre as matérias que ela emprega para tais “formações”.
Graças a esse interesse, que não é nem prático nem especulativo, a razão nasce para si mesma, alarga o entendimento, libera a imaginação. Ela assegura a gênese de um acordo livre indeterminado da imaginação e do entendimento. Reúnem-se os dois aspectos da dedução: referência objetiva a uma natureza capaz de produzir coisas belas, referência subjetiva a um princípio capaz de engendrar o acordo das faculdades.
Zona
do Euro
Como acordar? Acordo pela manhã
com dois sóis. Se eu pudesse ser apena dois, mas não consigo, não dá, não
posso, e sigo assim sem poder-me desmultiplicar. A Monica disse que me viu. A
Simone sumiu. Mudou pra Brasília. Ah se eu soubesse a cavidade triangular super
flex. Havia tantas horas sem sono, sem sonho, sem drama, sem cama, sem ninguém
pra pegar no joelho. Sabe, Salú mando um beijo, mas esqueci de dizer.
__Não fica assim.
__Mas você sabe, aldeia é tudo.
__Sim, eu sei... - e saio
descontente.
Mas de repente vem uma sensação
gostosa de plenitude, aconchego e orgasmo pleno. Se torto, eu sei. Escrevo
aqui.
verso agudo
Sonho velho guardado esquecido
como folha de papel amarelado
urra num canto da página
um solo de piano jazzado
gargalha e canta encanecido
encanta seu suave gemido
cada gotinha de uma nota
cada gotinha de uma nota
um pão mofado e verso
agudo
Urbanidade
?⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪Urbanidade.
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de soslaio. Estou semi �����������#0;0;&olhando?⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪tudo e escrevo. Poeta de café, actinta em
apuros. Em casa não há ao sol, E r em mim, meus olhos,a meus movimentos, meu
rosto. A miséria hoje me perseguio sol, caído no chão com a língua de fora, a
rádio Itatiaia informa. O homem do subterrâneo emerge nas ruas sem destino. De
repente me sinto palidamente constrangido. Não com o movimento da rua e os
transeuntes mas comigo mesmo. E parece transpa⨪⨪⨪⨪r em mim, meus olhos, meus
movimentos?⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪,
meu rosto. A miséria hoje me perseguiu?⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪Lá vão eles procurar
sapatos e deliberam o dia com moedas com���������������&#;
um pequeno infinito
A subida da montanha é lenta e
silenciosa. Observo com calma minha natureza íntima. O sol acalenta suavemente.
A brisa sopra em meu rosto. Estou atento a cada passo, mas a minha alma voa.
Estou alheio ao tempo, mas controlo minha respiração. Já não sou mais a mesma
pessoa que pisa na terra. Relva resplandece sobre os ares da primavera. De
repente o vento sopra mais forte. Os últimos passos ao topo. Ouço o bater de
asas da águia. Quando me aproximo e olho pra cima, vejo o grande pássaro que
ali observava sublime, imponente. Ao ver aquele pássaro perder-se no horizonte
torno minhas costas e somente àquela hora tive uma visão de onde estava. O quão
alto aquele pássaro de visão aguçada podia ver qualquer minúcia. Uma vista
completa da serra que contorna o vale, e o vale. Campos verdejantes que criam
matizes incríveis. Sento-me para descansar e observar a geografia. O rio
serpenteando, as quedas d’água criadas pelo relevo. Um momento de sonho.
Silêncio.
Um compromisso
com o acaso
Alguns chamam de sorte. Os
freudianos chamam de sincronicidade, de sincronia, ou sincronismo, tem a ver
com tempo. Cronos engole seus próprios filhos, a poeticidade na interpretação
da cronologia, essa fome sinistra. Outros chamam de coincidência, enfim,
existem vários nomes para o acaso – fado, destino, sina, ventura, sincronia,
simultaneidade, concomitância. Pode escolher. Esse último, o acaso, segue um
movimento caótico, acidental, quase mórbido, de suspense, batimentos cardíacos,
adrenalina, alívio. Transcendental, percebe?, um movimento não retilíneo e não
constante em velocidade. Só não se pode mesurar, medir, criar, inventar ou
fabricar um conceito novo capaz de explicar os porquês etimológicos da natureza
humana e quantificar e qualificar (o que fazem por ética, grosso modo dizendo,
valores universais - não matar, sexo não consensual também vai contra o
senso-comum de civilidade) e tudo aquilo que foge da natureza simplesmente
humana, demasiadamente humana, a imaginação, abstração. Roubaram-me uma crença,
quando eu era criança. Como te roubam cá e lá ao longo da vida. Mesmo Kinsey, o
maior taxonomista da área (taxonomia –).
Tudo é Nada
Eu te admirava.
Cheguei a gostar sozinho. Estranha forma silenciosa. Dois olhares se cruzam.
Olhar de gôzo e assombro. Com o passar dos dias eu mudei... Passei a te achar
pedante petulante, pernóstica. Eu te esqueci e agora volto ao fim de todos os
inícios. Sem moral, sem...
as cicatrizes
lembram as feridas que meu corpo sangrou.
Transmutando
Transmutando... transmutando... A chama violeta. Toda
hora Deus e a luz dourada. Minhas coisas estão preparadas. Estou preparado para
a mudança, estou também me transformando. Transpondo barreiras entre o homem
velho e o novo. Vencendo os obstáculos que a vida nos impõe. Sempre é tempo de
renovação íntima, recomeço, reconforto. Amor, carinho, companheirismo,
tranquilidade, amizade. Com os mesmos anseios, porém, com mais serena
compreensão a que me disponho perdoar e sacrificar. Despojando-me da velha
roupagem para vestir a única branca, e burilar meu espírito, iluminar minha
alma, vivenciar a paz interna mesmo sob as mais diversas inquietudes externas
que nos fazem “perder muito tempo”. Velhas diatribes internas não mais me
atormentam. Como tornar novo, melhorar.
Tempus Fugitiv
Cai a chuva, fina e última. Encaro o derradeiro momento como um fugitivo do tempo. As escolas de samba me dão certo enjoo. A fina chuva combina muito mais com as notas caídas. Esse verdadeiro lirismo derramado, cansado, sofrido, tênue, suave, me deixa. Escrever aqui não faz mais sentido. Escrevo sem nexo. Essa enxaqueca passa pela pauta do improviso. O sopro e o braço arqueado do garoto são coisa expressiva. A dor na cabeça minerva. Já deitei no escuro por mais de duas horas, em silêncio. O carnaval me deixa tenso. Não há nada na TV, apenas carnaval das mais diversas maneiras que se possa imaginar, das mais diversas formam que possam explorar a indústria da fantasia e alegria. Imagino-me mentalmente sozinho, sentado em um pub vazio tomando um trago. Esse jazzinho macio e Miles Davis ao meu lado. Sozinho por dentro. Cheio por dentro. Cheio de palavras, contos, casos e cheio até de ladainha que despreza e que desdenha. Aguardo que venha a aguda intercessão dos mortos de mim mesmo. Entendo que caiba um seguro-saúde nesse caso. Receio transcender o Zen. Temo que ninguém entenda o silêncio quando eu falo. Por isso calo. Por isso me entretenho com a superfície mentirosa. Por isso descarto vírgulas, inverto verbo, invento vocábulos. Alguns caracteres a menos, sim, farão falta. Amo pelos meios, meus pequeninos e desbotados floreios.
swiss
miss
Um dia de chuva. It’s a kind of blue que
invadiu meu coração. Cuidado terráqueo, os ETs estão chegando. Preciso de uma
mulher forte e delicada de espírito. Não desejo mais selar dívidas ancestrais
com quem não me deseja. Com quem sequer um dia lembrou-se de mim. Com uma
criança egoísta que tem pena de si e da própria mãe somente. Não desejo
inspirar pena ou mesmo piedade. Desejo o carinho que invadirá meu peito e a
plenitude que trará um pouco de paz ao meu peito tão dilacerado. Já lutei
guerras e venci a mim mesmo. Já cuidei dos fracos e deles também me afastei
para não sofrer. Vivi da ilusão imensa de querer proteger quem não me quer,
sequer como amigo ou companheiro. Do sentimento altruísta colhi desdém e
desprezo. Já não mais desejo uma criança por desejar tanto, tanto desencanto. E
me desfaço em verbos me recompondo. Juntando os próprios cacos de um poderoso
artefato que sobrou de mim.
Minha alma voa
no pano destorcido da realidade
Surge mais
forte de fatos que de afeto
Morna é a fragrância da
madrugada
Fragmentos harpejados,
herméticos de
Fátima e
agulhas náuticas
no mar de Malta
Amalgamada
farfalha
nalma
e a fleuma
aflora.
murmurejando
ciciando
não
sei
se
canto
rumorejando
negro
pardo
e santo
meu lamento
meu breque
meu
salamaleque
meu zumzum
suave
vendaval
O que quer que me possua, ignore. Você me possui mais.
softtango
going ahead
e a vida le-
vándalo
Shaman
Então escrevo desesperadamente,
compulsivamente. O que não me deixa. O que não me deixava. Procura auxilio nas
palavras, minhas próprias palavras. Amaciando o teclado, amaciando o
pensamento. Penso que sou essa página em branco e que devo cuidar-se com muito
cuidado. Nem sempre isso é possível. Blasfemo esse pedaço de documento virtual
com certeza de que não vou ferir ninguém, mas as consequências dessas palavras
ressoam, e acabar por arder em mim mesmo. Há um pensamento em fuga, uma poesia.
Ela se esvai, porque dilacera mais em poucas palavras que a prosa corrida e
articulada. Não que a poesia não seja articulada, não necessariamente o é. Na
sua desarticulação cria, no seu estado de caos sistematiza. Desconforto é pra
quem está confortável, equilíbrio é para quem está desequilibrado. Quero ser o
beijo nessa consciência e mesmo apesar do estrume, ainda enxergar a rosa. Sinto
que coisas boas, essas que ficam guardadas na nossa memória lúdica, começam a
desabrochar. Estou reunindo toda a força do mundo. A força e o poder de cura
das florestas amazônicas, fluidos cósmicos, juventude.
Sexo. Sinto o cheiro de sexo. Sinto o cheiro do meu próprio sexo.
Sexo primitivo sexo com beijo sexo com amor sexo sem amor sexo na sua voz sexo
na imaginação e no sonho. Você em pé de lado deitada de lado em cima em baixo
em volta entre. Diz que me ama, nena. Ainda não estou saciado desse amor que
procurava. Ainda me faltava alguma coisa que sinto que nunca mais vou ter –
inocência. Meu coração parecia um músculo atrofiado. A inocência infante, pura
e delicada, às vezes infausta. Feliz aquele que vê, mas não enxerga. Felizes os
cegos de alma, pois eles herdarão a ignorância do mundo. Meus olhos não brilham
mais, meus olhos não brilham mais. Felizes aqueles que se emprestam se vendem e
se contentam, pois suas almas serão salvas em algum asilo de luxo. Matamos a própria
sorte. Não acredito mais em nada. O sonho acabou - The dream is over. O Destino se transformou numa
entidade, assim como as virtudes, a Justiça e a Temperança. Sem leis, salvo as
quânticas. Sem regras. O sol brilha de novo, mas a paisagem continua tediosa.
Era como se... Tenho a impressão que estou tentando contar um sonho – uma
tentativa, porque nenhum relato é capaz de transmitir a sensação onírica, onde
aflora essa mistura de absurdo, surpresa e encantamento num frêmito de emoção e
revolta, essa impressão de ser capturado pelo inacreditável em que consiste a
própria essência dos sonhos. Vivemos como sonhamos – sós.
Segundas-feiras
são flores de janeiro
Segundas-feiras noite adentram
meus devaneios.Vou sem receio, mas esqueço as finalidades do meio. Na
vacuidão dos pensamentos que se vagueiam, no meio-de-jogo de uma partida
de xadrez. Numa segunda-feira, fauna e flora se misturam. Agora, o
conteúdo social falido. Agora, um conceito falido. Realidade entre criação.
Olho para minhas mãos, como em tempos perdidos qual busquei compreender nuances
de minha alma, os fios que compõem esse tecido. A maior sutileza, na hora do
jogo, foi poder ver, sentir e traduzir coisas que se perderam no passado. Por
entre ruas e becos, bares e lugares, buscando vírgulas, respirando o ar,
navegando os mares, tudo dentro desses olhos. Na Longelândia, bem longe.
Distante como diamante bruto.
sal de fêmea
Enfim, a parafernália
indecifrável e chamada tempo deixa escorrer o passado. Então acende mais
um cigarro, mesmo calado o seu grito é válido. No desprazer que abisma,
sua alma esvoaça e retarda as horas. Faz-se ouvir um sussurro. Um frêmito efêmero
frenético dispara. Água vazando em algum canto me diz que é hora de ir. Um
grito obsceno vem do alto, de onde ouço um som de congado. Vendo meu mundo no
claro - cego como obra inacabada. Vendo a inocência de qualquer coisa q ainda
não vi. Doeu-me saber que existem pessoas assim. Jamais pensei que um ser
humano fosse capaz de deixar o outro morrer aos poucos, cruel, ébria, soberba e
lentamente a cada dia. E cada dia parecia noite e os horrores eram poucos
comparados à madrugada. Nada mais te faz mal se você se entrega ao
silêncio of a dawn. A rua está deserta, mas todo mundo te
flagra. Você não é mais o mesmo. Você não tem mais respeito. Não é mais aquele
menino-zona-sul que eu conheci, virou um favelado e agora sempre será, sempre.
.......
Blue lines for a drunk lady
Blue lines for a drunk lady
Saio da minha
casa para dar uma volta, sem rumo nem motivo. A inspiração talvez seja um
cancioneiro francês que, ao fundo, canta seu lamento confuso e minguado. Então
saio para a rua e ando pelo mercado, vejo as pessoas e caminho. Vejo as pessoas.
Todas parecem ter um rumo certo e um destino incerto. Vou flanando, pairando
pelo ar como se não tivesse pernas. Como se fosse só olhos. Como se meus olhos
se pusessem a comer cada cor, cada movimento, cada imagem. Fico aqui na
varanda. Último refúgio tridimensional para mim. Palavras escorrem da pena. Eu
me pergunto se deve haver um começo-meio-e-fim, como numa partida de xadrez.
Apesar de não vermos, existe uma estrela que brilhará mais forte quando o sol
se puser. Devo esperar o sol se por? Minha caverna chama-me e como Curupira não
voltará sem deixar rastros invertidos. Meus olhos queimam. Talvez seja a
claridade. Me proibido de sair à noite por conta das feras que rondam a cidade.
Esse texto fragmentário. Hoje é sexta-feira. Berros, ruídos e sons enlouquecidos.
Impossível traduzir as nota do piano em um pentagrama invisível. Chega. Daqui
eu me vou. Dialogando com um pensamento débil. Enquanto dentro de mim
sentimentos eclodem organicamente como uma colônia de bactérias em colônia de
férias. Ouço vozes.
Saint Genet
Jean Genet, um dos mais controversos
dramaturgos modernos, suas inferências existencialistas no universo da
dramaturgia, fazem como pano de fundo uma de suas obras, O Balcão e Querelle.
Enquanto ainda hoje, vemos o mistério da marginalia, voltamos a nos envolver
com obras dessa “marginalia”, no âmbito dos vícios e das pulsões
transgressoras, partindo das obras do Marquês de Sade, do Lord Byron, de
Lautrèamont atentando à matéria desenvolvida no cerne da sociedade
moderna/contemporânea, da qual emana na década de 1950, O Balcão. Jean Genet é
um poeta que soube dar a marginalidade um lirismo poderoso. O próprio Genet
representado em Diário de Um Ladrão como uma obra viva da revolta produzindo
emanações de uma das mais ricas e complexas obras da literatura e do teatro
moderno, o mais subversivo, depois de Sade. Sua poética dramática revela uma
discussão autobiográfica que ao mesmo tempo analisa e cura, onde o mal pulsa,
dilacera, satisfaz e encontra redenção. Genet
em sua vida pessoal passou por um caminho de abandono e crime. Rejeitado pela
mãe ao nascer, adotado em um orfanato, tudo ainda poderia ser diferente se não
fosse procurado, em sua casa adotiva aos dez anos, por policiais que o levariam
ao reformatório, de onde fugiria aos 20 anos para iniciar sua vida de pequenos
crimes e prisões. Desde início de vida tumultuado, elabora para si mesmo, a
primeira e fatal estratégia de sua vida, assumir a marginalidade, quer fosse
ela verdadeiramente praticada por ele ou não. Assim, assumindo-se como
marginal, passou a viver e experimentar a vida como tal, praticando crimes e
sendo encarceradas várias vezes. Dessa vida de prisões pela Europa, onde passou
a maior parte do tempo, e segundo ele “aprende a viver”, entende uma primeira
espécie de determinação social: o homem é aquilo que faz, ou melhor, sua função
social determina sua existência. Apreende isso de tal forma que resolve
abandonar a sociedade que o abandonou em primeiro lugar, sendo marginal
convicto, cuja função é permitir que outros o desprezem e recebam desprezo de
volta.
saber lacônico
viver conciso
afônico sorriso
viver conciso
afônico sorriso
Sabem,
eu não sei
mais exatamente a quê se refere esse vida. Eu gosto de jogar xadrez. Acho que
estou um pouco tomado por essa síndrome da loucura help-less. Esse menino jogou
xadrez desde a barriga da mãe. Considerava o xadrez seu alter-ego. Sempre viveu
sozinho e se converteu evangélico da Worldwide Church of
God. Foi o primeiro campeão mundial americano quando ganhou um torneio de Spassky. Seu ego ficou maior do que ele
mesmo, depois de “fazer história” nesse vídeo, ironicamente, em Iceland ou
Islândia em plena Guerra Fria. Isolou-se do mundo e deixou a barba crescer...
Arquétipo de eremita.
S o n h O
Manhã de primavera, férias. Eu e meu irmão brincávamos no gramado em frente de casa. Meu pai trabalhava a 15 Km de Minsk, onde morávamos. As lembranças são como uma película de oito milímetros com as cores estouradas, lindos tons de luz, do sol alegre do inverno, vermelho e amarelo do vestido da minha irmãzinha. O azul do céu, a imagem com o atraso (ou delay) do projetor, menos de 24 quadros por segundo. Aos domingos íamos ao Teatro Nacional. “Vamos Klaus, mama ruft uns. Mamãe está chamando.” Passa por nós um senhor de idade avançada. O velho caminha lentamente de bengala e conversa consigo mesmo. Estou parado na porta de casa observando... Quando está exatamente na minha linha de visão, ele lança-me um olhar que ainda lembro até hoje. Pareceu-me o olhar da morte. No fundo dos seus olhos ocos.
Sonho que a vovó, sempre de luto, está na beira de um pântano infestado de crocodilos (ou seriam jacarés?) e tenho que salvá-la. Mas eu só tenho oito anos. São as histórias de onça que meu pai contava. Vejo os bichanos, olhos atentos observando. Aparece uma canoa e pessoas levam minha avó para o outro lado do rio. Observo eles atravessarem a remo, até a outra margem, ficam cada vez menores em perspectiva, e mais longe. Quando forço os olhos de miopia, vejo que todos estão vestidos de branco, homens e mulheres. Seriam anjos? Eles a ajudam a descer na margem. Somente ela está vestida de preto. A expressão de pânico silencioso em seu rosto desaparece. Ela aceita que a levem. Via tudo acontecendo como se usasse um binóculo, e tudo acontecia em um lugar onde eu nunca vi e nunca fui. Durante vários anos tive esse sonho. Carregava-o como paisagens flutuantes.
“Muti, porque aquele homem é tão velho?”
“Porque o
inverno ainda não chegou pra ele, meu filho”
resultado
solidão
Queria que soubesse que os cut-ups da vida, acontecem. Momentos difíceis
são resolvíveis e o sofrimento nunca é uma constate. Onde há desequilíbrio,
retidão. Onde houver desilusão, paz. Amor já não rima com dor. Amor com abraço
forte e tenro, com carícias e com carinho, companheirismo com esperança e com
inocência, com alegria, ela existe. Eu queria que você soubesse que nada é
assim definitivo, mesmo onde há desilusão. Estamos vivos. Diz que eu perdoo.
Que a calcinha vermelha e seus pezinhos não saem de mim. Jamais conquistei
nenhum reino pela brutalidade, inconsequência ou pela força, tão-somente. Vejo
o meu futuro onde lá tudo está bem.
Quatro noites e um sonhador
Acordo para uma nova experiência. O dia.
Dia após dia vivo as infinitudes da solidão. Sinto um vazio pela orfandade de
meu pai. Suajoie é minha tristesse na região mais dolorida do
coração. Mas conservo esse vazio para mim mesmo. E parece que finjo o tempo
todo, disfarçamos. Há anos o problema persiste. A congruência de encontros
parece já impossível. Então cresce desordenadamente. Faltam lágrimas já desidratadas.
Por baixo de um manto de calmaria, carrego toda energia que me falta, feito uma
bússola. Então almoço o mundo, engulo a cidade em pedaços, depois de dois ou
três cafés pela manhã. A vida é um esporte movido a veneno. Converso com esse
vazio que se expande. Mi dice che è triste che crece e non abbiamo fortuna, caduto dal cielo per
la paura, pedaço de merda. Solidão a qual as
mulheres estão acostumadas. Eu, termino aqui. Boa noite e bom domingo.
Quando
uma vela acende a outra...
Como se encerra algo em si? na falha? no ego?
Qual parte do rabisco te faz seguir adiante? o equilíbrio
das massas?
Como quem, pena na mão,
verifica, profetiza, cria, engole, samba, arremessa, casa
e se divorcia da causa, da causística da causalidade cáustica, enfim, Tudo no
Todo e o Nada se transforma...
O que há no fundo do ARREPIO?
quando eu morri, Jim
__ E você? - perguntou Deus –
com que música vai querer fazer a “passagem”?
__ Passagem? – perguntei de
volta, meio sem saber. Sabendo que na língua “falada” não se “enxerga” aspas
nem itálico, nem Maiúsculas nem parênteses.
__“Quanto custa? tem que pagar?” – uns gritavam lá da frente.
__“Vai demorar muito?” outros indagavam lá de trás e continuei minha entrevista.
__“Quanto custa? tem que pagar?” – uns gritavam lá da frente.
__“Vai demorar muito?” outros indagavam lá de trás e continuei minha entrevista.
__ Olha, nesse casso vou
precisar da ajuda do Senhor – repliquei em desespero.
__ Ô meu querido, meu Filho
agora está em outro cargo...
__ Mas Ele, por acaso,
desempenha outra “função”? Tira férias, ou coisa assim, e vai pro Paraíso?
(pensei que fosse um cargo honorário, pensei)...
__ Meu caro, qual música você
vai querer no seu ritual de passagem? – explicou São Pedro, mediador da
conversa nos “portões do céu” –... na hora da sua “transição” – continuou meio
exaltado – da carne para o espírito? – concluiu.
__ Eu posso escolher? (Mas à essa “hora” eu já estava morto e agora, tô aqui tentando entrar no céu, ou isso é só um sonho?) – eu suava frio. Qual música eu vou querer quando deixar o corpo material para viver no plano espiritual? Mais essa agora... – vocês vão “editar”?
__ Eu posso escolher? (Mas à essa “hora” eu já estava morto e agora, tô aqui tentando entrar no céu, ou isso é só um sonho?) – eu suava frio. Qual música eu vou querer quando deixar o corpo material para viver no plano espiritual? Mais essa agora... – vocês vão “editar”?
__ filho, essa é sua ultima
escolha carnal... Responde logo, p o..! – e São Pedro quase fala um palavrão,
pensei.
__ Tudo bem tudo bem! Suíte
pra dois pianos do Rachmaninoff – enchi a boca pra falar.
__ Pede aquela do Ghost! - uma
senhora tentava me induzir.
__ Se fosse eu, pedia uma
música brasileira - dizia o outro em voz alta, tentando me recriminar.
__ Elitista! - alguém gritou.
__ Burguês! - essa eu vi.
__ Qual?
__ Qual o quê? - perguntei.
__ Qual Suíte?
__ Suíte número 1 Opus n.5
Rachmaninoff!
Pémm!!! soou uma sirene como
se eu fosse ganhar um milhão, mas começou a melodia. O áudio era “divino”,
Double Estéreo:
Pirilrim pirlim
puppupupupupú
papaprarararararã
plrilim
plrolo
prlim...
prolohm...
Então eu me vi saindo do
corpo, levitando, (me veio à cabeça a logomarca do YouTube) sendo carregado
pelos braços por dois anjos fêmeos (um deles se parecia com a Brigite Bardô)
sendo levado direto para alto das montanhas rochosas do Himalaia, lugar que eu
sempre quis conhecer antes de “morrer”. Meu Deus! O Everest! – corta para
uma cena que estou querendo copular com uma das anjas (a moreninha) e só
encontro minha própria mão, então a outra diz em anjês –
__ Vamos “Petit”! – sim! então
era “Petit” o nome dela.
__ E agora, o quê que eu faço?
__ ...
(Imagina se me deixam no Pão
de Açúcar... achei melhor acordar, mas voltei a sonhar com os leões do
Discovery Channel)
Quando chegamos do Saara
Depois de
viver a vida... No Egito ouvia-se um burburinho, um pequeno boato, um babado
sobre um personagem mítico da antiguidade. Estava na boca do povo, mas ninguém
sabia o que era... Chegamos do Saara (mercado popular do Rio) e nada sabiam
sobre Helena. A história apenas começara e Helena Negra já se casou, viajou em
lua-de-mel, voltou, sofreu um acidente de barco (mas já se recuperou) e agora
vai à Petra, a trabalho. Tristão está fazendo jus ao nome que recebeu de sua
mãe. As mães são perdoáveis. Imperdoável é a velocidade com que Ovídio teria
que escrever se fossem representar todas essas cenas, em apenas alguns
episódios, no Grande Teatro de Atenas, em Atenas. É nessas horas é que se
precisa de um bom roteirista. Um indivíduo de imaginação fértil e raciocínio
ágil. Sagaz em sua sagacidade, sem pleonasmar ou criar neologismos. Que saibam
conservar o modelo matriz de mulher aliado ao saber popular e ao gosto pelo
romance e o drama. Homero, talvez, Plínio, Tibério? José de Alencar? Não,
Manoel Carlos, o expert das grandes estrelas, criador do arquétipo moderno,
grande autor da contemporaneidade. (entra bossa nova...) “sei lá... sei não...
só sei que é preciso lálálá...” Repetição de velhas-novas, imbecilização das
massas, os olimpianos, Max Horkheimer, Günter Jakobs, o funcionalismo... Não há
nada de criativo nos meios de comunicação.
Danse sur la merde
Le petit va te faire foutre com
cigarro de menta. Como é que a música sertaneja faz sucesso na Croácia? O
compromisso com a vida continua. O Ritmo não pára. Tudo faz parte do Todo e o
Todo faz parte de tudo. Um faniquito Rita Rayworth de arrancar os cabelos da
axila. Como estabelecer uma relação de duelo entre homens e mulheres? Somos
párias que maquinam coitos e biscoitos. Vidas, ideais, Vidas ideais. Vai uma
vem dezoito. Jamais seria juiz de direito, pois não sei arbitrar, não sei
julgar. De qual lado estamos? Se os homens somos inseguros? Não sei. Não sei de
que lado está “a” verdade, pois as verdades estão dentro em cada futilidade,
injustiça, ignorância, desfaçatez que seja (crew) possível. Não sei o que a
mente inconsciente de cada um concatena a respeito de sua realidade urbana
cotidiana mundana. Sei que rompemos as barreiras da moral. O ser que somos
transformou tudo em frozen shit. Inventou o mundo de plástico.
Cenas perfeitas de vida nas maçãs do rosto das pobres meninas transviadas. A
Barbie empregada doméstica e mãe solteira.
20 de março de 2011,
...
Hoje, às 20h18min, acaba o verão. Verão passado foi
inglório, mas hoje isso se torna apenas passado. Hoje estou, de fato, tirando
todas as coisas do meu quarto; gavetas, armário, tudo. Tudo que quero
preservar. Já encaixotei meus livros e minhas pequenices que são tudo que
tenho. Joguei fora poucas coisas sendo que já tinha tudo armazenado, pois nunca
me instalei realmente. Cada estante já está vazia. A cada instante descubro
coisas esquecidas, uma camisinha vencida, cartas sentimentalistas (pois as
mulheres e as mães escrevem cartas sentimentalistas), manuscritos à caneta que
há muito não existe. Mexendo em minhas últimas gavetas, encontrei uma coleção
de calcinhas. Quê dizer? São de relações que também não existem mais. Símbolos
icônicos de fetiche que não tenho mais. Nem sei distinguir de quem são. São de
antigas namoradas, sim, que cantam agora em outras serenatas. As pequenices
também são ícones que trago pela curta jornada da vida. Objetos, não muitos,
que relaciono a determinadas lembranças, que racionalizo, mas que invadem o
setor afetivo. Essa “mudança” é para mim quase um “despacho”. O Titanic está
afundando. Quebrou-se o eixo central, a água invade às plenas e quem pode se
salva. Renascer é quase um vento divino, um suicídio existencial Kamikaze. Um
ir sem deixar-se levar. Um pulo de ponta, um dar-se conta de que mesmo as
pequenices de passado não existem. Só significam algo para mim. Algo que se
perde e que se renova, pois o sol não pede licença pra nascer a cada dia. Sigo
seguindo. Do mundo não saio. Não sou santo, mas se caio me levanto. Da vida
trago só a própria vida e as marcas que ganhei. Os espinhos rasgam a carne,
dilaceram a alma e o caminho é árduo. Tudo está vazio e estou mentalmente
pronto. Existe, de certo, uma auto-organização em meio ao caos, percebe?, que
cria e desembaraça novelos. Um fio, aparentemente, interminável de filamentos
que se desgrudam desse elemento essencial. Não sei para onde vou crescer. Não
traço minha vida com régua. Não sei qual será o próximo passo, mas sigo andando.
Desnorteado? Eu me oriento pelas estrelas e pelas sombras, pelo céu e sol. Sou
um homem, um animal autobiográfico. Durmo durante a noite e acordo quando
amanhece. Sigo pelos horizontes que despontam a minha frente. Hoje é domingo,
tudo está vazio. O domingo não gosta de ver ninguém bem. (as calcinhas vão pro
lixo).
345milpontas
Paixão
da minha existência atribulada
Sinto fome eu como. Sinto sono eu durmo. Sinto frio
eu me cubro. Sinto muito já era. Vou dividir em partes e o juízo sintético é
uma merda. Sinto falta das minhas cavernas, como eu já disse. Sinto falta das
mãos suja de fogo (carvão, na verdade). Mas nesse mundo que a fogueira é só das
vaidades, mando o plural a merda e passo a hifenizar tudo. Meu mundo. A virgem
do xamãm, man, é não linear, diferente do herói épico. É vertical
pra cima ou pra dentro. E agora são três e meia da manhã e eu nessa lenga...
Tentando organizar open Sá mentol. Se eu conseguisse dormir viajaria pra
cima e não pra dentro, como estou fazendo agora. Porque organizar pra mim não é
produzir. Organizar é produzir? Minha virgem Santa Maria, dividir em partes...
Embora eu seja protestante, (como esse Nick Cave é macabro) preciso fazer um
compêndio. Sintetizar tudo e voltar a amar porque “se quieres ser
felices. No analices. No analices”. Vou ouviu esse disco. Chega Nick,
seu macambroso. Aprende a cantar!
“A amizade é o amor sem asas” escreveu Lord
Byron.
Quando eu me sentia tão só, maltrapilho e maltratado (lembro-me de um tango rasgado “El perito compañero también me abandonó”) eis que fiz contato com um amigo de meu irmão.
recomendei que desse uma olhada nesse meu blogue que trato com discreto amor paternal e que ilumina meus dias como uma manhã de verão.
Desde que saí do hospital André Luís, por conta de uma mal sucedida tentativa de autoextermínio, o que eu, aliás, considero o cúmulo da incompetência. Fui salvo pelos meus pais e já descrevi essa passagem estranguladora que espero esquecer. Mas entendo esses momentos, movimentos sinérgicos, regulação química, potencialização, recomposição energética que passa pelos desejos.... e pelas atitudes.
hoje, passado esse deletério humano
que me fiz durante o ano de 2013, constituímos uma forte amizade que promete
ser o eixo de um movimento cultural, construto de uma geração que só faz
crescer, mediante signos e sinais do acaso. Meliante, mediante, lá no
avarandado, no segredo dos olhos, na militância poética, na flor de janeiro, vento
que vem do mar, bem além do fim do medo, na luz do novo começo, no meu jeito de
recomeçar inícios, no bem querer, no estado de espírito, na gira, no difícil
estar consigo mesmo quando as luzes se apagam e temos que dialogar com as
sombras do apartamento.
Um solo de oboé e frases incompletas
da ária que estamos a compor.
A casa cheirava à álcool, da sala até a cozinha. Havia apenas
dois quartos. No primeiro, ao lado do banheiro dormiam os três meninos. Na
sala, quase não havia nada além de uma TV (sempre ligada) uma cadeira ao lado
de um monte de roupas, e um sofá. No outro quarto dormia o velho e Tereza, uma
jovem de vinte quatro anos que não se sabe como fora morar lá. Parece que veio
como uma sobrinha do interior, mas de sobrinha rapidamente s tornou amante.
Começou quando seduziu seu primo mais novo, James. Quando James disse aos mais
velhos, a libido se espalhou pela casa, e o cheiro de sexo passou a dividir
lugar com o cheiro de álcool que pairava permanentemente. A moça sabia gostar
do cão vira-lata que vivia com eles - Lilico. A libido, uma vez no corpo
pueril, fazia os meninos sentirem algo sem saber o que, um odor, ver de viés
uma bundinha, uma calcinha secando no banheiro fazia os hormônios eclodirem no
corpo todo. O mais velho deles tinha dezesseis anos. O do meio, quatorze, e o
mais novo, o pequeno Jim, tinha apenas onze quando Teresa apareceu do Nada com
apenas uma muda de roupa avulsa, mais nada. Guido, "o velho", disse
que uma tia distante mandara a menina de um lugar desconhecido, com nome
difícil. Guaraci-ci... Guará-cipê-pá... Guaraci-pê... a curiosidade dos irmãos
não era muita e ninguém se incomodou com a chegada da moça, mesmo sem saber de
onde ela vinha, quem ela era. No segundo seguinte, já havia trepado com todos
os irmãos. Cada um sabia seu momento, não brigavam. Desfrutavam da generosidade
espontânea daquela mulher que não se parecia nada com eles. O velho sempre
chegava bêbado da rua, trazia só amargura. Essa amargura fez os meninos se
formarem, entretanto, nas pequenas artimanhas de uma quadrilha, um bando, um
"bando de bairro". Depois que o mais velho, o “Estaca-Zero”, também
conhecido só por “Estaca” (conseguiu esse apelido porque sempre dizia que ia
recomeçar a vida da "estaca zero", mas o apelido pegou mesmo, quando
matou um guarda com uma estaca afiada de fazer cerca. Fincou aquele padeço de
pau no corpo do homem que estava derrubado no chão. A estaca perfurou sua
barriga e ele teve uma morte violenta, ficou meia hora sangrando e balbuciando
e praguejando, antes morrer com aquela coisa na barriga. Ficou ali até o dia
seguinte, quando começou a feder.)...
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