Dois mil e treze foi
um ano ruim
Gostaria de colocar esse título em meus
escritos, mas penso que seria demasiada
ousadia plagiar a ideia de título do escritor norte-americano John Fante.
Pergunte ao pó e Espere a primavera Bandini são dois livros que me inspiraram a
ser um jovem escritor. Arturo Bandini é um jovem escritor de talento que não se
dá muito bem com as mulheres. Mas o fato é que, não me inspirei no personagem,
nem tampouco no enredo de 1934, pois justo esse, que foi um ano ruim, começa
sem começo e termina sem fim.
Minha vida sempre foi um blog aberto ao público
e nunca escondi nada do que passei. Ao contrário, investi noites e pinceladas fazendo
do texto um autorretrato que representasse a paisagem que existe em mim.
Escrever para mim sempre foi uma tentativa de
falar. Uma tentativa e expulsar rancores, mas nem sempre atingi êxito nas
investidas que fiz. Muito pelo contrário,
inúmeras vezes me senti mais angustiado por não conseguir.
Faço agora um balanço de toda minha produção nesse
ano em que estive doente. Doente do mundo, doente de mim mesmo, enfim, doente
dos pecados do mundo e dos prazeres que levam os pecadores a produzir. Doente de
dores indizíveis, portanto inenarráveis. A precariedade da linguagem em ser
representante de sentimentos, como a dor física ou dor da alma, essa dor que
todos trazem como afirmam os preceitos budistas, é de inalcançável probabilidade
de reprodução por via de meios verbais e frases, e signos linguais.
Contudo, mesmo estando ciente disso, eu
insisti. Bordei cada palavra no pano distorcido da realidade. Firmei assento
diante dessa tela e de um documento em branco, na esperança inglória de
conseguir. Nem que fosse um ligeiro esboço, uma prece, uma curva que sinalizasse
as vibrações energéticas do turbilhão que me fez arremessar a primeira letra na
página.
Sofri. Muitas vezes. Quando escrevi minhas
cartas para Deus, registrando a caminhada que fiz em 2010 onde estive por dez
dias a seguir pelas cristas de montanha, sendo o homem mais feliz do universo,
sofri. Sofri por ser estar ali novamente, sozinho logo depois em que vivi a
minha primeira experiência de ficar internado por causa das drogas.
Nesse ano eu andei na esteira ergométrica todos
os dias durante todo o es de janeiro. Em fevereiro eu iniciei a jornada,
obcecado em conseguir atingir meu objetivo. E consegui. Não sem durante os dias
decorridos, passar ileso aos contatos introspectivos que temos quando estamos a
peregrinar solitários por cumes inabitados e vales e rios onde a natureza se
mostra em seu estado mais agreste. Não tinha a quem socorrer nem a quem pedir
socorro.
Sobe moro, desce ladeira, a vida foi se
metaforizando no ambiente mais nobre que alguém pode ir: o próprio ego. E assim
fui delineando minha geografia interna. Não havia como deixar de seguir adiante
ou retroceder. A caminhada era forte e não há lugares habitados onde eu pudesse
sair de mim mesmo e impetrar uma conversa trivial que surtisse esse efeito. Porém,
a única pessoa a seguir era eu mesmo.
Não há sagacidade em seguir. Não há senão o
instinto de manter-se em movimento. Encontrei Deus dentro de mim. Não sei como
descrever com exatidão esse momento em que, diante do fogo, esse elemento imprescindível
ao sobrevivente, eu vi Deus. No crepitar da madeira que queimava a sabor do
vento, após por entre becos e ruas sem saída retornar descontente nesse labirinto
interno, alcancei um portal que se não me leva a Deus, deve levar ao céu de
todo inferno.
Vi essa luz. Ainda me lembro.
A vida segue. E para todo fim permanece apenas
um recomeço.
O sol também se ergue indiferente a quem somos.
Nuvens ou estrelas?
Comentários