Considerações finais sobre o alinhamento do Terceiro ciclo
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... donde espero, culminará no aparecimento de um livro.
Tem sido prazeroso e difícil, como transar a primeira vez com uma mulher bonita que você admira. Ao tempo que temo que veja sendo como parir um filho. Meu primeiro rebento, o 4:44
já vai completar 11 anos no dia doze desse mês de dezembro. Já é um adolescente, já sumiu no mundo tanto quanto eu. Tanto e tantas vezes eu o tenha presenteado ao universo, ao dono do bar. Vendido, trocado, geralmente para tutelar o filho e outros artistas, usado como moeda nas horas de necessidade, quase todas.
Juntar os pedaços de frases soltas, lampejos de dor que dói de fome e dorme sobre as lágrimas arrancadas do peito. Levei três meses para organizar as 47 páginas que tinha. Acabou sendo chamado pelo Negrão, que fez a revisão literária, de “um romance não-linear”.
Essas quarenta e sete páginas são lidas facilmente em pouco mais de cinco minutos. Mas me disseram que é um livro para ser revisitado.
Não sei se elogio demais a própria criação, mas é assim mesmo que sinto.
Quanto ao terceiro ciclo, acho que os textos antigos aguardavam impacientemente a hora de serem remexidos, salvos buscados trabalhados publicados de forma diferente. Sinto que já estavam cansados de ali permanecerem.
é fácil transferir os textos para um simples documento de Word, e formatá-lo fazer uma pré-diagramação como qual desejo que seja e certamente ao resvalar de olhos, deixar que sigam concretizados no tempo em minha voz original de quando foram verbalizados, vociferados, chorados e alterar sua estrutura minimamente possível.
Enquanto lido com influências externas que, contudo não que tiram a força de fazer tal tarefa, devo perguntar, à maneira dos geômetras, como devo conectar lamúrias tão iguais, escritas de formas tão diferentes.
Lamentar-se é como esmiuçar o problema. De todas as discrepantes e diminutas formas mais simbólicas, relativo ao ser. As mais eróticas, as mais dilacerantes e cruas nesse olhar profundo e pra dentro. Um princípio budista é não fugir do problema. É tornar-se íntimo dele. Caso contrário ele virá a incomodá-lo. Seja quando for.
Tentei transferir meu problema usando palavras. Expressando-me através da linguagem escrita, esse poderoso signo mediador. Manipular as palavras, como escreveu Baudelaire, é como evocar uma espécie de feitiçaria xamãnica. É travar diálogo com o bem e o mal que há dentro de si. Às vezes combalido, perde-se para um dos dois. Ajoelhamos em servilidade febril e diabólica, o que nos santifica logo em seguida.
Sartre comparou Genet à Madre Tereza de Calcutá...
Mas esses textos recentes, creio que estão onde devem estar. No ano em que um dia vieram a ser como bola de neve, num inevitável crescente de dar dó.
Ainda não consigo lidar com eles, como aos outros considero “passado”.
Voltam a minha mente momentos que quero esquecer “para sempre” temporariamente, pois no futuro ei de agradecer quem me os fez criar.
Devo cerrar os dentes feito um delinquente, enquanto tenho dentes, e negar-me a revisitá-los.
Por ora é tudo que tenho a esquecer.
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