Félix e eu criamos um conceito que se pode dizer que é filosófico, com a ideia de território. Os animais de território há animais sem território, mas os animais de território são prodigiosos, por que constituir um território, para mim, (...) E o território só vale em relação a um movimento através do qual se sai dele. É preciso reunir isso. Preciso de uma palavra, aparentemente bárbara.
Então, Félix e eu construímos um conceito de que gosto muito, o de desterritorialização.
é quase o nascimento da arte.
e não o há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte. Tudo isso acontece nos animais.
É isso que me fascina, todo o domínio dos signos. Os animais emitem signos, não param de emitir signos, produzem signos no duplo sentido: reagem a signos, por exemplo, uma aranha: tudo o que toca sua tela, ela reage a qualquer coisa, ela reage a signos. E eles produzem signos, por exemplo, os famosos signos... Isso é um signo de lobo?
O escritor está à espreita, o filósofo está à espreita. É evidente que estamos à espreita.
O animal é... observe as orelhas de um animal, ele não faz nada sem estar à espreita, nunca está tranquilo.
Ele come, deve vigiar se não há alguém atrás dele, se acontece algo atrás dele, a seu lado. É terrível essa existência à espreita. Você faz a aproximação entre o escritor e o animal.
Seria preciso dizer que, no limite, um escritor escreve para os leitores, ou seja, “para uso de”, "dirigido a". Um escritor escreve "para uso dos leitores".
Mas o escritor também escreve pelos não-leitores, ou seja, “no lugar de” e não "para uso de". Escreve-se, pois "para uso de" e "no lugar de". Artaud escreveu páginas que todo mundo conhece. “Escrevo pelos analfabetos, pelos idiotas”.
Escrever não é assunto privado de alguém.
Escrever é, necessariamente, forçar a linguagem, a sintaxe, porque a linguagem é a sintaxe, forçar a sintaxe até certo limite, limite que se pode exprimir de várias maneiras. É tanto o limite que separa a linguagem do silêncio,
O piar doloroso, todos dizem, bem, sim, Kafka. Kafka é A metamorfose, o gerente que grita:
“Ouviram, parece um animal”.
Há um território para a morte também, há uma procura do território da morte, onde se pode morrer. E esse gatinho que tentava se enfiar em um canto, como se para ele fosse o lugar certo para morrer. Nesse sentido, se o escritor é alguém que força a linguagem até um limite, limite que separa a linguagem da animalidade, do grito, do canto, deve-se então dizer que o escritor é responsável pelos animais que morrem, e ser responsável pelos animais que morrem, responder por eles... escrever não para eles, não vou escrever para meu gato, meu cachorro.

Não há literatura que não leve a linguagem a esse limite que separa o homem do animal.

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