Ruspo - Esses patifes

    Tenho escrito essa coluna toda segunda-feira, com a liberdade de falar sobre o que me apetece. Já foram 3 textos sobre música. Engraçado… Acho que a música tem realmente ocupado um espaço cada vez maior na minha vida. Não sou nenhuma maestra, entendedora do caso, mas é melhor que se fale de algum ponto de vista. Quantos somos por aí opinando sobre e debatendo pelo simples fato de se criticar? O quê? Mas sinto que estou dentro desta que é hoje comumente chamada de cadeia produtiva da música. Essa "cadeia" também não me apetece. Me remete a algo fechado, preso, com grades. E são tantos os significados dessa palavra que também não convém me ater a isso. Talvez eu esteja focada nas ações opressoras que gritam debaixo do pano desse país que não sabe quem colocar  na "cadeia" e sai às ruas para gritar suas angústias. Tenho falado de música, mas ontem li sobre a morte de Leonardo Morelli, o jornalista que auxiliava na coordenação do grupo Black Block e encabeçava (mesmo com um tumor) denúncias contra empresas de fabricação de concreto em prol de causas ambientais.
    Mais uma tragédia, como todos os dias acontece aqui ou em qualquer lugar. Não quero ser mais triste por isso, mas sou. E o pior é que às vezes ficamos com a pulga atrás da orelha. "Mas ela foi assassinada um dia antes da eleição?". Não faz mal, um voto a menos. Terá sido crime político? Sim, porque não adianta fingirmos que isso é lenda. Pelo contrário, somos filhos, herdeiros da ditadura, do cárcere, da tortura, da perseguição. Esse ano vi bombas de verdade voarem de helicópteros, vi o circo, os bancos e as multinacionais pegando fogo, vi muita gente sendo presa e vi até helicóptero de cocaína sem dono.      
    Estamos, por um triz, enfim, em 3012. Ops, 2013. Sigo e penso, por exemplo, que está próximo o dia em que o tal índio descerá da estrela colorida e brilhante pra pousar no hemisfério sul. Eles estão sendo assassinados, expulsos de suas terras, exterminados e poucos se preocupam com isso. O Ruy se preocupa. Ele se preocupa muito. Impressionante. Eu deixei de ser assim desde quando me machuquei demais, mas, enfim, ainda me preocupo. Ele é muito engajado. É jornalista, está há não sei quanto tempo no Mato Grosso (do Sul) trabalhando no CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e teve em maio os seus equipamentos confiscados ilegal e arbitrariamente pelo delegado Alcídio de Souza Araújo, da Polícia Federal: http://www.youtube.com/watch?v=ZRlHeOzENvI

   E aí eu volto a me perguntar: direitos humanos, pra quê? Tem muita gente equivocada por aí. Meu amigo Rafael Barros gosta muito dessa expressão "equivocado". Aqui em BH, é o adjetivo ideal para o prefeito. Enfim, o Ruy não é só engajado. Ele é também sensível, educado, criativo. Ele adora expressões do tipo "Com todo respeito". Acho legal demais. Um gentleman decidido e radical, vamos dizer assim… Ainda bem que ele gravou esse disco: https://soundcloud.com/ruspo/sets/esses-patifes.      Senão, imagino eu, sofrimento total. É muito conflito, é muita injustiça, muita coisa errada, muita opressão. A gente quase morre. Essas divisões de terra, esses fazendeiros ricaços poderosos, a polícia, esse povo que não entendeu ainda o sentido da palavra "globo". 
    Pô, o Ruy acumula 7 processos judiciais e já foi até ameaçado de morte. E tem muita gente que não entende o disco. Normal. Música bonitinha né? É sim, mas com uma ironia, meu amigo… uma verdade, uma esperteza. Era assim que a gente devia fazer sempre. É que na arte somos livres, na vida não. Um salve à arte!!! Evoé!!! Ele é daqueles tipos que escuta música o tempo inteiro. Eu tava quase enlouquecendo com ele aqui. Até tecladinho com dois acordes toquei pra acompanhar. Que emoção! A gente aqui falando de Belo Monte em Belo Horizonte. O Ruy só viaja. Acampou por aqui uma semana e lá se foi denovo. Tinha acabado de chegar da Coréia (do Norte?). Tava lá falando sobre os índios. Tô pra comer aquelas algas, Ruy. O mundo precisa saber mesmo. 
    Dá uma raiva. Porque assim, as músicas são feitas todas no computador. E o mac foi apreendido né?!  E levando-se em consideração todas as influências que ele carrega naquela mochilinha viajante, é uma puta falta de sacanagem! Lá se vão Gil, Caetano, Curumin, Tulipa, cidades, amores e tudo quanto é índio. Imagina na copa? Queria entrevistá-lo ao invés de escrever esse texto, mas ele anda sumido. Deve estar em alguma aldeia. 
    Quando você volta de vez, Ruy? Bóra fazer um show? O cara gravou o disco, mas treme pra subir no palco. É tímido. Não dá pra subir no palco atrás da lente, né Ruy?! Às vezes até dá... Mas vai lá que tu é foda, quer dizer, chega mais. Aqui ano que vem tem eleições, copa, mestrado e tem até o Centro Cultural Luiz Estrela. É tudo nosso! E pra vocês que resistiram, um presentinho: http://www.youtube.com/watch?v=WHdb3WhlTqU . Que seja vírus no natal!

Brisa Marques

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