Jean Genet em versos
Quem é Que Abraça o meu Corpo
Quem é que abraça o meu corpo
Na penumbra do meu leito?
Quem é que beija o meu rosto,
Quem é que morde o meu peito?
Quem é que fala da morte,
Docemente ao meu ouvido?
És tu, Senhor dos meus olhos
E sempre no meu sentido.
Le Dîner sur l’Herbe
À noite foram chegando pouco a pouco
ao parque umbroso
(a treva rumorejante).
Desconhecidos uns dos outros,
vinculava-os apenas
a opção profunda.
Com naturalidade
desnudaram as almas,
afrouxando roupas...
O sexo acendeu como um fósforo.
Uma imensa felicidade
(tão breve!)
no desafogo.
Findo o improvisado festival,
retiraram-se sem despedidas
para seus subúrbios,
dispostos a roer
por mais uma semana
a côdea do cotidiano.
No Jardim
“Posso comparar-te a um dia de verão?”
William Shakespeare
A um nu de Praxíteles posso comparar-te?
Teu corpo tem a textura do leopardo
seu vigor e tensa musculatura, o olhar fundo
e no ato de amor és pleno de rumores.
Ainda estás lá, em teu horto penumbroso
na madrugada, insone, os passantes
solitários atraindo aos teus braços
beijos, à carícia das palavras doces?
No Paraíso
Uma roseira em vigília
só rosas, sem espinhos.
E sob as ramas floridas
Adão ao lado de Adão.
Uma serpente adormece
à altura das virilhas
só rosas, sem espinhos.
E sob as ramas floridas
Adão ao lado de Adão.
Uma serpente adormece
à altura das virilhas
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