sobre Fim - o primeiro romance de Fernanda Torres
O romance de estreia de Fernanda
Torres, Fim, tem como tema central a
morte, ao narrar o desenlace de cinco amigos. Mas ao narrar e entrelaçar suas
memórias, outros temas se entrelaçam, como a amizade, o amor, o sexo, e é claro,
a vida. O livro pinta um painel sobre a geração dos pais da autora, e um
período da história do país, os anos 60 e 70. Faz também um instigante retrato
da cidade do Rio de Janeiro, principalmente a Zona Sul e o Centro, tendo na
verdade a cidade como mais um personagem.
Cronista do jornal A Folha de São Paulo e da revista Veja Rio e colaboradora da revista
Piauí, a autora recebeu de Fernando Meirelles, diretor de A Cidade de Deus (2002), o convite para escrever um conto para ser
publicado em uma antologia e que seria utilizado mais tarde em uma série para a
televisão. Assim foi escrito em quatro dias Álvaro, a primeira parte do futuro
romance. O projeto para a série não se concretizou, enfim, e Fernando Meirelles
mostrou o conto a Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras. O conto foi
entregue com um bilhete da autora que dizia mais ou menos o seguinte, segundo a
página de cultura do jornal O Globo, de 10 de novembro de 2013: “Olha, acho que
talvez haja um romance aí. Se eu criar outros quatro velhinhos e os matar,
terei uma curva de evolução dramática”.
Uma vez aceita a proposta, Fernanda
Torres escreveu os quatro episódios correspondentes aos outros personagens, todos
na primeira pessoa, e por sugestão do editor, para os episódios que focam
outros personagens utilizou a terceira pessoa. Desta forma a autora faz uma
montagem com os fragmentos de suas vidas que se entrecruzam, relatando muitas
vezes as mesmas situações a partir de vários pontos de vista. Com uma narrativa
fragmentada, com idas e vindas no tempo e a passagem de um a outro personagem,
a autora imprime dinâmica e agilidade ao texto para traçar um retrato da
velhice, da solidão e da morte.
Talvez por seu trabalho como
colunista e certamente por sua experiência como atriz, Fernanda Torres surge em
sua primeira longa narrativa, como uma escritora já madura, consciente do que
escreve, com uma prosa ágil e concisa, apresentando uma surpresa em cada frase,
muitas vezes irônica e cruel, fazendo retratos bem construídos de seus
personagens e um consistente painel de uma geração e de uma época na história
do país a partir de pontos de vista inusitados. O romance que tem como tema a
morte, trata no entanto da vida, do amor, da amizade, do sexo, da solidão e do
envelhecimento.
Cláudio Rodrigues
Cláudio Rodrigues
Comentários
Forte abraço,
Gustavo