Lei Seca


Uma festa pagã para um deus Pã. As horas passam e a dor não volta atrás, acelera. Um grito de mulher quebra o silêncio da madrugada, bem clichê. Correr como um lince, morrer no asfalto. Aquela noite não foi apenas uma noite, foi a noite da ‘lei seca’ em que uivamos pra Lua no terraço da casa da Bailarina. Sentia nas veias sujas de sangue sujo avinagrado aquele amor impossível, inviável e antagônico. Apesar de, por dentro, minha revolta com a vida, com o mundo, a minha revolta enlouquecida de álcool, de vinho, de cachaça, uísque e velho barreiro, ouvindo Billie Holiday, Chet Baker e Marvin Gaye... Não pude evitar tocar aqueles seios negros, perceber o amor estranho amor entre eles. Esse meu amigo, homossexual indefinido de muita força vital de homem, e um lado feminino estranhamente forte. Essa noite a Bailarina jogou as cartas para ele. Brindamos com belo vinho, cantamos em coro, choramos juntos à vida e à alegria. Também não podia definir That Black beauty psicanalisada, That Black beauty que já leu Feuberbach, Kierkgaard e os modernos Samuel Beckett, Vergílio Ferreira. Entende um pouco da vida, é médica e mora em Brasília. Aquela voz um pouco rouca e eu, um pouco louco. Não estava mais ao meu alcance entender aquele amor. Um amor de épocas passadas, um amor condenado, um amor tolerante, clemente, intenso e desumano ao mesmo tempo. Um amor que não encontra nada em si sobre ele mesmo. Que goza pelo cu. Que ama uma mulher e um homem. Não eu, ele.
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Comentários

morenocris disse…
adorei o final do post e a placa do carro = 17 = 8

gus, senti uma sensação estranha agora, aqui, em seu blog. parecia o dia em que te conheci e te visitei pela primeira vez.

isso é bom. ao mesmo tempo é renovação. olhamos com os primeiros olhos os olhos já olhados. é encantamento.

estava com saudades. acompanho-te pelo blogroll.

beijinhos.

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Gustavo disse…
Oi Cris!

Que saudades da tonalidade da sua voz, sim, pois é a sua voz nessa junção de letras.
O que nós gravamos como palavra, nossos nomes, a primeira impressão semiótica que nos vem à mente.
E é à partir disso, que temos, possuímos realmente, a percepção de uma outra pessoa.
Bom sentir sua presença por aqui!
Beijos,

Gus
Anônimo disse…
Texto antigo. Gosto muito dele. A cris gostou tb. Eu e ela temos o mesmo gosto.

"parecia o dia em que te conheci e te visitei pela primeira" Cris.

Pois é.
Gustavo disse…
caros amigos,

Esse texto foi resgatado da inundação da biblioteca de Alexandria. O Vaticano liberou parte do acervo da obra de Homero junto com ele na transliteração para o português.

ass.

Tiberius Aahbran
Alice Salles disse…
amor nunca se entende ou não se extende.
Gustavo disse…
Alice,
o fato é que Drummond tinha razão

"João amava Tereza que amava Raimundo
que Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."

e assim segue a vida...
ditosa para uns, ingrata para outros.
Abraços de cá,

Gustavo
LuzdeLua disse…
Senti-me angustiada com este maravilhoso texto. Acho que ando procurando significado para meus revezes. E a pergunta sempre fica no ar mesmo: Por quê? Porque o que que não entendemos é o que mais nos intriga e permanece em nós? Creio que, ao estar vazia, estou cheia das mesmas coisas sem querer estar. Vê o quanto as palavras são importantes? As tuas, me fizeram pensar sobre este estranho sentimento: Há amor para todos os momentos. O que quer ficar, o que quer partir, o definido e o sem qualquer definição. Muito bom. Obrigada pela visita, esto te linkando por lá para não te perder. Seja bem vindo ao meu humilde cantinho.
Um beijo com carinho
Gustavo disse…
O do poema Carlos Drummond chama-se Quadrilha, mas, veja como são as coisas:
quando dizem QUADRILHA hoje em dia, penso em um bando de marginais armados e organizados nas favela, planejando alguma ação de guerrilha.

quadrilha
do Cast. cuadrilla, grupo de quatro pessoas

s. f.,
conjunto de quatro ou mais cavaleiros dispostos para o jogo das canas;(?)
cavalhada;(?)
bando de ladrões ou salteadores submetidos a um chefe;
peça musical correspondente à contradança;
pop.,
multidão;
súcia;
corja.

fonte:
http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx

vítima da semiótica,
pobre Drummond...
Gustavo disse…
Oi LuzdeLua,

As palavras são artefacto de muito valor. Ainda são e sempre serão. Consegue expressar (dizer, mostrar, remeter à - na verdde) sentimentos, imagens, sonhos, abstrações. Arquitetos da palavra, acho que não entender faz parte do jogo, porque é entender demais.
LuzdeLua, obrigado por iluminar o meu cantinho.
Beijos,

>¨<

ps: está feita a ponte!

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