Noites Adentros, NY
P a r t e 5
S o n h O
Manhã de primavera, férias. Eu e meu irmão brincávamos no gramado em frente de casa. Meu pai trabalhava a 15 Km de Minsk, onde morávamos. As lembranças são como uma película de oito milímetros com as cores estouradas, lindos tons de luz, do sol alegre do inverno, vermelho e amarelo do vestido da minha irmãzinha. O azul do céu, a imagem com o atraso (ou delay) do projetor, menos de 24 quadros por segundo. Aos domingos íamos ao Teatro Nacional. “Vamos Klaus, mama ruft uns. Mamãe está chamando.” Passa por nós um senhor de idade avançada. O velho caminha lentamente de bengala e conversa consigo mesmo. Estou parado na porta de casa observando... Quandoestá exatamente na minha linha de visão, ele lança-me um olhar que ainda lembro até hoje. Pareceu-me o olhar da morte. No fundo dos seus olhos ocos.
Sonho que a vovó, sempre de luto, está na beira de um pântano infestado de crocodilos (ou seriam jacarés?) e tenho que salvá-la. Mas eu só tenho oito anos. São as histórias de onça que meu pai contava. Vejo os bichanos, olhos atentos observando. Aparece uma canoa e pessoas levam minha avó para o outro lado do rio. Observo eles atravessarem a remo, até a outra margem, ficam cada vez menores em perspectiva, e mais longe. Quando forço os olhos de miopia, vejo que todos estão vestidos de branco, homens e mulheres. Seriam anjos? Eles a ajudam a descer na margem. Somente ela está vestida de preto. A expressão de pânico silencioso em seu rosto desaparece. Ela aceita que a levem. Via tudo acontecendo como se usasse um binóculo, e tudo acontecia em um lugar onde eu nunca vi e nunca fui. Durante vários anos tive esse sonho. Carregava-o como paisagens flutuantes.
“Muti, porque aquele homem é tão velho?”
“Porque o inverno ainda não chegou pra ele, meu filho”
>>¨<<
(s e g u e...)
S o n h O
Manhã de primavera, férias. Eu e meu irmão brincávamos no gramado em frente de casa. Meu pai trabalhava a 15 Km de Minsk, onde morávamos. As lembranças são como uma película de oito milímetros com as cores estouradas, lindos tons de luz, do sol alegre do inverno, vermelho e amarelo do vestido da minha irmãzinha. O azul do céu, a imagem com o atraso (ou delay) do projetor, menos de 24 quadros por segundo. Aos domingos íamos ao Teatro Nacional. “Vamos Klaus, mama ruft uns. Mamãe está chamando.” Passa por nós um senhor de idade avançada. O velho caminha lentamente de bengala e conversa consigo mesmo. Estou parado na porta de casa observando... Quandoestá exatamente na minha linha de visão, ele lança-me um olhar que ainda lembro até hoje. Pareceu-me o olhar da morte. No fundo dos seus olhos ocos.
Sonho que a vovó, sempre de luto, está na beira de um pântano infestado de crocodilos (ou seriam jacarés?) e tenho que salvá-la. Mas eu só tenho oito anos. São as histórias de onça que meu pai contava. Vejo os bichanos, olhos atentos observando. Aparece uma canoa e pessoas levam minha avó para o outro lado do rio. Observo eles atravessarem a remo, até a outra margem, ficam cada vez menores em perspectiva, e mais longe. Quando forço os olhos de miopia, vejo que todos estão vestidos de branco, homens e mulheres. Seriam anjos? Eles a ajudam a descer na margem. Somente ela está vestida de preto. A expressão de pânico silencioso em seu rosto desaparece. Ela aceita que a levem. Via tudo acontecendo como se usasse um binóculo, e tudo acontecia em um lugar onde eu nunca vi e nunca fui. Durante vários anos tive esse sonho. Carregava-o como paisagens flutuantes.
“Muti, porque aquele homem é tão velho?”
“Porque o inverno ainda não chegou pra ele, meu filho”
>>¨<<
(s e g u e...)
Comentários
Genial!
beijos e bom fim de semana
mas lendo o seu texto, subtamente começou a tocar "o velho e o moço" na minha cabeça;
acho tão incrivel seus textos,
o desing do blog. vc é de bh?
não seria "o velho e o mar"? do Hemingway enfim,
obrigado pelos elogios.
Sim, eu moro de Belo Horizonte, e você?
Abraços.
Gustavo
Abraços,
Gustavo
Meu pai era engenheiro em Minsk. Morávamos todos lá.
O brilho do sol não guardava nenhum encantamento.
Abs,
>¨<
penetra sempre em longas gerações.
quanto ao inverno e ao verão, são ocasiões naturais para celebrar a vida. assim como as outras estações.
jóia!