Mea culpa




Abro os braços em cruz.
Grita que quer viver! Estou de mudança. Mudando de casa, habitación. Mudando de casca, mudando de pele. Choro. Como sempre. Agora com o peito apertado. Prantos disfarçados de passado. Lágrimas do sul ainda não vazaram e entornaram e choveram e despejaram e deitaram sobre as faces e se estenderam e se alastraram pelo rosto, pelo corpo desnudo, sobre a pele. Todo dia a dia é ontem, e o ontem não existe mais. Chove agora. Dor de solidão, mas as palavras... recolhem pedaços de mim e fogem sem dizer. Meu peito está apertado, Klaus. Mudar dói demais, você sabe. E sangra.
Quando meu pai, silencioso e sério, proferiu no universo onde o silêncio mora, seu grito de guerra, de que jamais deixaria a família passar fome, era apenas um menino, Deus-menino, e virou homem. E a profecia se cumpriu e a fome nunca bateu à nossa porta.
Um dia, uma noite, também proferi na varanda do Maletta que iria “varar com força” e bati o pé no chão, e ali ficou meu coração.
Que a profecia (tão minha que tenta reviver) também se cumpra.

in dúbio pro réu

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